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PE. JOSÉ SERVAT E A MILITÂNCIA CAMPONESA NO NORDESTE.

Faleceu na França, em 07 de Abril, aos 92 anos, o Pe. José Servat, fundador, aqui no Brasil, da ACR-Animação dos Cristãos no Meio Rural. Profeta e apóstolo, educador de muitos militantes cristãos camponeses, sobretudo na região nordestina, por mais de 30 anos, Pe. Servat nasceu em Pamiers (França), perto da grande cidade de Toulouse. Especializou-se em educação cristã dentro da Ação Católica (modelo francês !), levando centenas de militantes à prática do compromisso social da fé cristã, seguindo o método VER-JULGAR-AGIR, elaborado pelo cardeal belga e apóstolo dos trabalhadores Joseph Cardin.

    

         Dom Helder Câmara, em 1964, recém-chegado arcebispo de Olinda e Recife, viajou à Europa para procurar colaboradores para o trabalho de acompanhamento e de evangelização, aqui no Nordeste, da classe operária e da classe camponesa. Chegaram então ao Recife Pe. Romano Zufferly, que fundou logo a ACO-Ação Católica Operária e Pe. José Servat que criou a ACR, adaptando a sigla à nossa realidade como Animação dos Cristãos no Meio Rural.

 

          Em todo o Nordeste, da Bahia ao Maranhão, Pe. Servat e seus colaboradores “formaram” centenas de militantes camponeses, homens e mulheres que assumiram com paixão as lutas da classe camponesa, muitas vezes participando das direções mais combativas dos sindicatos rurais; pessoas que sacrificavam seu tempo, sua família e sua vida na militância cristã a serviço da classe. Nos anos 60 e 70 eram tempos difíceis, a militância sempre um risco e meio clandestina. Com o apoio de uma Igreja profética, os militantes da ACR se entregavam à luta sindical, participavam das greves dos canavieiros, animavam comunidades e cooperativas, estudavam as cartilhas do MEB e de Paulo Freire. Enraizados em sua classe, com fé extraordinária, lembramos com muito respeito os militantes como Rufino, Benedito, Renato, Euclides, Zé Paulo, Agapito e Beja-Flor, cristãos comprometidos e grandes líderes sindicais de Pernambuco; Maria Paulo, dona Alzira, Margarida Maria Alves, da Paraíba; Manoel Bispo, Manoel Bento, Raimundo Marinho....e tantos outros que contribuiram a fazer história na classe camponesa, aqui no Nordeste. Ao redor de Pe. Servat, formávamos um grupo de padres que se prontificavam a companhar os militantes na metodologia e na espiritualidade: Afránio, André (hoje bispo de Rui Barbosa-BA), Zé Maria, Paulo, Hermínio...

 

       Com Pe. Servat vivia sempre um grupo de seminaristas que se preparavam para exercer o ministério no meio rural; Servat cuidava muito da formação teológica deles; ele mesmo era membro do ITER-Instituto de Teologia de Recife,  fortemente alinhado com a Teologia da Libertação.

 

        Pe. Servat acreditava nos leigos, confiava a eles a tarefa de animar e evangelizar a classe trabalhadora: “os pobres que evangelizam os pobres” dizia na época dom Helder Câmara. O método da Ação Católica da época formava trabalhadores com um profundo compromisso social e fé cristã, e os acompanhava como “fermento na massa” ou na classe, no meio de tantas lutas e na perspectiva da construção do Reino de Deus.

 

          Em 1997, Pe. José celebrou o seu jubileu sacerdotal (50 anos de padre), cercado por muitos camponeses, padres amigos e alguns bispos entre os quais dom Hélder (com a saúde já fragilizada). Foi naquela ocasião que recolhemos um depoimento surpreendente de Pe. José Servat: “Nos trinta e cinco anos que doei minha vida ao meio rural nordestino, encontrei o amor: amor de irmãos, acolhida, solidariedade de pessoas de diferentes raças, culturas, cores e religiões; em geral pessoas miseráveis economicamente, mas ricas de coração na preocupação com a justiça e a fraternidade na construção do Reino de Deus. Encontrei o amor na Igreja, em bispos e padres, sobretudo nos leigos do meio popular. Descobri a presença de Jesus Cristo ainda crucificado nos povos indígenas, nas comunidades dos afro-descendentes e nos migrantes”.

 

           “O essencial é dar o melhor de si mesmo no encontro das pessoas” dizia.

Pe. José Servat interpretava e explicava a divisão de classe escutando a sabedoria popular e valorizando um canto bem conhecido e famoso no meio do povo naquela época; - Estamos como sapo debaixo do pé do boi -. Pe. Servat refletia: “Como nos inserir no olhar e nas atitudes do sapo que não morre nem vive, imagem de nosso povo esmagado mas que mantém uma visão do mundo e a vontade de um dia mudá-lo. Sapos nos lamaçais da vida, imagens de tantos pobres e excluídos. O boi triunfante incapaz de dar atenção ao sofrimento dos miseráveis, representa o orgulho dos poderosos que mantém intocável este mundo de miséria e de lágrimas e que aproveitam do que Deus criou para todos. Mas um dia, - amor e verdade se encontrarão, justiça e paz se abraçarão, da terra germinará a verdade e a justiça se inclinará do céu (Salmo 85) -”.

 

             

 

                                                                    Pe. Hermínio Canova

                                                                       da CPT Nordeste

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