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Breve comentário sobre o livro de Eduardo Hoornaert. Em busca de Jesus de Nazaré

Autor de cerca de trinta livros e centenas de artigos, em parte considerável abordando história do Cristianismo, publicados no Brasil e vários países, o Prof. Eduardo Hoornaert nos brinda, desta feita, com seu livro mais recente.

A despeito de já se haver tornado respeitável referência nesta área, e não obstante o crescente interesse de novos pesquisadores sobre as origens do Cristianismo, intriga-nos bastante positivamente o potencial criativo do autor. Não só não repete e não se repete: traz-nos novidades impactantes! Não me seria surpresa que sua mais recente pesquisa, "Jesus em paralaxe: uma análise dos primeiros escritos" alcançasse índices privilegiados de leitores e leitoras, não apenas no Brasil.

 

O livro, que alcança cerca de 200 páginas, vem distribuído em 17 capítulos, além de prefácio, apresentação, uma densa bibliografia, índice onomástico.    

 

Desde o sub-título e a introdução, vem assinalada a novidade: o tipo de abordagem empreendido pelo autor: "uma análise literária dos primeiros escritos". E assim se faz, ao longo do texto. "Jesus emparaxe" constitui uma iniciativa inovadora de reler, inclusive, uma figura milenarmente biografada, sob tantos olhares, aí predominando largamente um olhar teológico. Sem desconsiderar de todo esta forma de abordagem - o autor até admite a ela recorrer marginalmente -, a tônica de sua abordagem quer ser de caráter literário. Tal opção comporta diversas vantagens, dentre as quais:

- apresenta-se como uma trilha analítica atípica e inovadora, diante da enxurrada de escritos quase estritamente teológicos, que não tomam em conta aspectos de razoabilidade, mesmo ante fontes que fornecem elementos convincentes, opostos a uma leitura estritamente teológica. Ao longo de seu texto,em várias passagens, isto resulta melhor esclarecido.

 

- toma em forte consideração fontes históricas dos primeiros tempos do Cristianismo, daí recolhendo consequências inevitáveis, em especial quando confrontadas análises e considerações que, de certo modo, agridem dados revelados por fontes credíveis; 

- ao eleger como foco de sua leitura a análise literária, isto não significa dar as costas a outras abordagens. Muito ao contrário: permite uma leitura multi/interdisciplinar, à medida que o fio literário é capaz de costurar, ao mesmo tempo, diferentes olhares - histórico (inclusive  por meio de relevantes achados arqueologicos), econômico, sociológico, político, cultural...

  

Definida sua feliz escolha pela abordagem predominantemente literária, aqui recorrendo a autores de referência de reconhecida competência, trata de avançar seu trabalho, definindo agora o recorte dos documentos históricos tomados como alvo de sua análise. Com efeito, por se tratar de um vastíssimo e complexo universo de textos e escritos - só os evangelho apócrifos exigiriam anos e anos de análise, e o quê dizer da quantidade de outros escritos, que apareceram nos primeiros séculos do Cristianismo ou pouco depois, inclusive os canônicos? 

 

Desse universo complexo e vasto de escritos neotestamentários, o autor elege três documentos sobre os quais se debruça, analiticamente, ao longo do livro: as cartas paulinas de maior referência histórica, a Carta aos Hebreus e o Evangelho de Mrcos. Isto não impede que se reporte - e o faz com admirável fluidez didática e erudição -, com frequência, a tantos outros textos - vétero e neotestamentários. Isto fica especialmente consubstanciado em um de seus quatro apêndices inseridos no livro: aquele em que se detém com o seu conhecido rigor metódico, sobre a Carta de Tiago.

 

Passo, em seguida, a pontuar alguns destaques que eu ia registrando à margem do texto lido.

 

- pela seriedade do trabalho de pesquisa;

- pelo acúmulo de pesquisas precedentes sobre este e temas correlatos;

- a genial abordagem que elegeu: literária ou histórico-literária! Isto faz GRANDE diferença! Aí enxergo sua maior contribuição;

- não bastasse a excelência do "método de pesquisa", acresce a excelência do "método de exposição": brilhante pela forma simples, objetiva, convincente, agradável...;

- as notas que acompanham a exposição são sobremaneira DIDÁTICAS, além de  atestaren com maior precisão a qualidade das fontes e da extraordinária bibliografia selecionada e bem trabalhada;

- reputo genial - e não de hoje! - sua investida (junto com outros poucos autores) numa interpretação deJesus, a partir do seu movimento: o "movimento deJesus", que comporta naturalmente militantes;

- muito inspirada, a definição das correntes fontais trabalhadas - Paulo, Hebreus e Marcos. Surpresa para mim foi especialmente Hebreus!

- não menos impactante, sua leitura literária de Paulo, destacando sua liberdade diante da Lei, bem como sua autonomia diante dos "Doze". 

- Como pouco ou nada eu conhecia acerca de análises sobre a Carta aos Hebreus, esta parte constituiu para mim a surpresa maior - agradável! - que experimentei, seguida da análise da Carta de Tiago;

- admiráveis, o empenho e o êxito do autor, ao focar Marcos (e os demais textos-alvo de sua análise), quanto à sua contínua e vasta remissão ilustrativa aos textos véterotestamentários e do do Novo Testamento. Com um destaque de peso ainda maior: sua refinada sensibilidade poética expressaem não poucas passagens bíblicas antológicas. É tocante acompanha-lo em inúmeras citações ou remissões a passagens de uma beleza poética rara.

 

Encerro essas rápidas linhas, agradecendo ao autor pela densa contribuição oferecida a todos nós, especialmente às novas gerações de cristãos e cristãs que, não raro, chocados com posturas dogmáticas de suas igrejas, delas se têm afastado. Aqui, elas, eles encontram um jeito novo de se falar e de se retratar a Jesus, sob um ângulo muito próximo do entendimento dos cristãos e cristãs dos tempos de hoje. Seu modo inventivo, provocador me fez remeter, am vários momentos, a uma figura – Paulo Freire – que o autor também tanto preza. Eduardo põe em prática, neste livro, não apenas a “curiosidade epistemológica, da qual Paulo Freire falava, mas igualmente sua insistência na necessidade de “reinventar” nossa leitura de mundo.

 

Alder Júlio Ferreira Calado

 

João Pessoa, 11 de maio de 2016. 

 

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