1. Reflexão e produção teológica.
Para os 25 teólogos/teólogas/agentes de pastoral que participaram do Encontro, a preocupação é refletir e escrever sobre o Projeto de Deus e a Prática de Jesus, a partir da realidade em que eles mesmo trabalham, na escuta do povo. Na Pastoral do Povo da Rua, por exemplo, diante da negação da dignidade das pessoas que vivem na rua, reflete-se sobre o projeto teológico negado, sobre Deus que está presente naquelas pessoas –nos seus instintos, paixões e gestos de solidariedade- e é negado; afirma-se que o Deus de Israel está presente no meio do Povo da Rua.
Na Comissão Pastoral da Terra, os agentes/teólogos refletem e escrevem sobre o sentido da terra, da água, da semente, como elementos essenciais à vida: teologia da terra, da água, do milho. Os Mártires da Terra e as Romarias da Terra inspiram outras reflexões e textos.
No Grupo dos Peregrinos e Peregrinas do Nordeste não se respira a poeira dos livros das bibliotecas acadêmicas, e sim a poeira da estrada: reflete-se sobre a Teologia do Caminho e da Fé do povo romeiro; este povo quando entra no santuário “santifica com sua fé aquele espaço” !
À nível do estudo mais sistemático, alguns jovens teólogos dedicam todo esforço para entrar no caminho aberto por grandes figuras da teologia latino-americana: Jon Sobrino, Inácio Ellacuría, José Comblin e outros.
Quanto à obra e legado de José Comblin, tem uma abordagem ecumênica de católicos e evangélicos nas seguintes temáticas: a ação do Espírito no mundo, a proposta missiológica de Comblin e o método da Teologia da Enxada.
2. O debate.
Analisou-se o fenômeno atual da desmobilização da comunidade teológica e do retorno à Academia. É sempre mais difícil fazer teologia nos espaços oficiais das igrejas; torna-se melhor o espaço civil ! As associações de teólogos e teologas da Soter (Sociedade de Teologia e Ciências da Religião) e da Ameríndia (Grupo latino-americano de Assessoria Teológica) são ainda espaços significativos e autônomos de reflexão e produção teológica no nosso continente. Falou-se também que o Nordeste, pela sua riqueza cultural e religiosa de inúmeras experiências nas Pastorais Sociais, nos Movimentos e Grupos comunitários e de luta social, tem a possibilidade de se afirmar como um verdadeiro laboratório de teologia.
3. Mas a Teologia para onde vai, hoje ?
O Concílio Vaticano II foi um momento de intensa atividade teológica. Mas nos anos 80 começou o desmonte e começou pela teologia criativa da CLAR (Conferência Latino-americana dos Religiosos e Religiosas); esta foi acusada de ser um magistério paralelo e portanto foi perseguida. Nos anos 90 apareceu o Catecismo da Igreja Católica que enquadrou a teologia em formulações doutrinárias e ofereceu um instrumento de doutrina já pronto.
Depois nasceu a igreja midiática. No Brasil, a Canção Nova tornou-se um novo magistério e criou uma juventude católica conservadora e moralista. Começou a aparecer na televisão a hóstia sagrada, estimulou-se a adoração ao santíssimo sacramento, alimentando uma verdadeira “idolatria do pão”, dispensando a vivência eucarística e o compromisso evangélico com os pobres. Perdeu-se assim a sacramentalidade da comunidade: ficou-se com a benção do copo d´água (Pe. Robson, do santuário católico do Divino Pai Eterno !).
À nível de ensinamento, a Teologia vem sendo substituída pela Ciência da Religião, uma Ciência importante, mas sem o engajamento na fé das comunidades cristãs.
Permanecendo o atual cenário católico religioso, analisou-se no Encontro, surgirão tensões e conflitos na teologia, na formação cristã e no dialogo ecumênico.
Constatou-se também que o Laicato Católico encontra-se à mercê da hierarquia; os leigos e as leigas estão perdendo sua identidade de pertença ao Povo de Deus como Igreja de Jesus Cristo, todos e todas chamados à liberdade no Espírito.
4. Afirmações e propostas.
- Afirmou-se a importância da autonomia, da liberdade e da fidelidade ao compromisso evangélico, a exemplo da Associação de Presbíteros que é uma associação de caráter civil e goza de condições de autonomia na organização do estudo e da formação, na participação aos fóruns da sociedade e na criação de redes e parcerias.
- Os Jovens Teólogos nordestinos se comprometeram de intensificar a produção teológica a partir das experiências pastorais e de luta social da nossa região nordestina.
- Foi assumida a busca de um calendário de encontros de intercâmbio e de reflexão coletiva.
- Os presentes manifestaram o desejo que cada ano seja realizada uma Semana Teológica no Nordeste, preparada com encontros locais ou estaduais.
- Foi decidido de utilizar o SITE - www.teologianordeste.net - para a comunicação e divulgação de trabalhos, textos, pesquisas e para noticiar novos eventos.
“Não busquemos a luz no fim do túnel, mas acendemos a luz dentro do túnel” !