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Comunidade, corpus políticos, em diálogo à luz do Movimento de Jesus

Rolando Lazarte

Pretendo nestas linhas, desenvolver algumas experiências e reflexões com a finalidade de contribuir para o debate e a ação inspirada pela XI Semana Teológica Pe. José Comblin.

Para começar, direi que o conceito de comunidade têm uma ressonância muito forte na minha experiência de vida. Desde bem cedo aprendi que são os trabalhos em comum o que constrói a unidade entre as pessoas. Aquilo que fazemos cooperando para um bem comum. Podem ser tarefas domésticas, atividades educacionais. Aquilo que nos faz saber de maneira concreta e direta, que precisamos de outras pessoas para ser felizes, para sobreviver, para crescer, para o que for.

Muitos anos depois destas primeiras lições de vida, já aposentado do meu trabalho como docente na UFPB, vim para a Terapia Comunitária Integrativa, como uma atividade de extensão do DESPP no conjunto dos Ambulantes, em Mangabeira. Eu estava tentando desde fazia tempo, sair de uma depressão profunda. Estava difícil. Nessas jornadas de preparação e realização de rodas de TCI com pessoas bem pobres materialmente mas ricas em alegria e disposição de melhorar, fui vindo eu também a tona.

Lembro de uma canção daqueles tempos: “Quem disse que não somos nada, que não temos nada para oferecer, repare nossas mãos abertas trazendo as ofertas do nosso viver. Recebe Senhor...”

Acompanhei o crescimento e expansão da TCI pelo Brasil, tanto na Paraíba como em outros estados (Mato Grosso) e também no exterior (Uruguay, Argentina, Bolívia).

Esta caminhada foi me trazendo de volta, e continua a fazê-lo. Recuperei uma sensação de que se pode agir em colaboração com secretarias municipais de saúde, movimentos sociais, universidades, gerando espaços de construção de vínculos solidários, reforço da autoestima e da capacidade resiliente, e sentimento de pertencimento.

Isto é comunidade. Me vejo nas histórias das demais pessoas, que se veem na minha própria história. Não tentamos nos homogeneizar nem pensar ou agir da mesma maneira. Antes ao contrário, aprendemos a conviver com as diferenças, tentando fazer do choque uma possibilidade de crescimento, em direção a uma cultura de justiça e paz.

Como se conecta esta ação cidadã com a ação cristã?

Posso dizer que a TCI é uma ação cristã, no sentido de que, como Comblin afirma, ela faz com que apareça a pessoa esquecida.

A pessoa fala de si, do que lhe tira o sono, as suas preocupações, e também das suas vitórias e conquistas.

Vamos perdendo sensações de vazio ou sem-sentido. O fatalismo cede espaço para a esperança. Saímos do imobilismo.

A atividade de TCI em Mangabeira que mencionei no início desta nota, ativou a auto-confiança das pessoas da comunidade, em conjunto com a ação do pessoal do PSF. As reuniões motivavam a dançar e cantar. Reclamar junto à prefeitura municipal a respeito da coleta do lixo.

Neste ano e meio já quase de confinamento e restrições ao contato direto, a TCI on line vêm sendo um espaço de potenciação da recuperação da identidade e  do sentido de viver para muitas pessoas.

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