TEMA:
“OS POBRES E Pe. JOSÉ COMBLIN NOS ENSINAM A CAMINHAR NO CAMINHO DE JESUS”
1 - A TENDA DO ENCONTRO É FRUTO DE DIVERSAS EXPERIÊNCIAS DE FÉ:
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– Pessoal - Visão e desejo de ser Igreja servidora – Francisco de Assis - Diaconia como serviço aos mais pobres e excluídos
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– Comunitária – Cebs - PJMP – Prado – MPC – Missionários do Campo (Comunidade do Discipulo Amado) – Experiências Profissionais (abrigos da prefeitura e Caps AD)
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2 – A TENDA DO ENCONTRO É UMA “RESPOSTA” A VOCAÇÃO DIACONAL = SERVIÇO AOS POBRES E EXCLUÍDOS
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– Origem da Diaconia = Jesus de Nazaré – “o Servo de Javé” (Is 53,11) é por excelência o Diácono do Pai - disse de si mesmo:
“Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas par servir e dar a sua vida em resgate por muitos”. (Mc 10,45)
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– Instituição dos Diáconos na Igreja Primitiva (diákonos = servo, servidor; diákonia = serviço) – Para servir aos excluídas e excluídos dos gentios. Surge de uma necessidade que gerou uma reivindicação dos gregos:
“Naqueles dias, aumentando o número dos discípulos, surgiram murmurações dos helenistas contras os hebreus. Isto porque, diziam aqueles, suas viúvas eram esquecidas na distribuição diária. Os Doze, convocaram então a multidão dos discípulos e disseram: ’Não é conveniente que abandonemos a Palavra de Deus para servir as mesas. Procurai, antes, entre vós, irmãos, sete homens de boa reputação, repletos do Espírito Santo e de sabedoria, e nós os encarregaremos dessa tarefa’”. (At 6, 1-3)
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– Deus me delapidou – Progressivo processo de formação e experiências profissionais
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- Ordenação Diaconal - A dalmática esquecida e o encontro com as irmãs e irmãos em situação de rua.
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– Festa dos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael 29/09/2011: Visita ao túmulo do Profeta Dom Helder Câmara – Juramento de fidelidade ao serviço aos pobres.
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– Inicio da Pandemia - março de 2020 - Distribuição de quentinhas com diversos grupos
- Experiência dos ossos ressequidos: “Ele me disse: ‘Filho do homem, por ventura tornarão a viver estes ossos?’”. (Ez 37, 3)
A imagem de uma TENDA surge como resposta e como uma forma de se aproximar,acolher, escutar e alimentar aqueles irmãos e aquelas irmãs.
- Experiência da Sarça Ardente - De março de 2020 a janeiro de 2021 - O meu coração ardia com um forte de desejo de colocar a Tenda em ação:
“Moisés olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia”. (Ex 3,2b)
- Dia 23 de janeiro 2021 - início do tempo de preparação para a implantação do Projeto Tenda do Encontro. O Evangelho daquele Domingo foi: Mc 1,14-20 - O inicio da pregação de Jesus e os primeiros discípulos.
- De janeiro a julho de 2021 - Tempo de Preparação para implantação e construção do Projeto da Tenda do Encontro
Como: visitas semanais, com breves momentos de orantes, distribuição de lanches e água, tendo como ponto de partida a Ponte do Limoeiro, seguido de visita as populações do Manguezal.
- Também tempo de divulgação e de construção da proposta da Tenda do Encontro.
3 - PROJETO TENDA DO ENCONTRO
3.1 Introdução
É um projeto desenvolvido junto as populações em situação de rua e vulnerabilidade social, na e nas proximidades da Ponte do Limoeiro, região central do Recife, no bairro de Santo Amaro.
O nome do Projeto “A Tenda do Encontro” nos remete as tradições judaico-cristã, e a outras tradições religiosas antigas, em que a tenda representava local da manifestação da Divindade.
Nos escritos veterotestamentários, encontramos diversos texto ou passagens que nos ajudam a compreender a tenda como lugar da manifestação de Javé; como lugar da sua revelação e que comunica ao seu povo escolhido através de suas lideranças, uma mensagem de vida e de esperança; em outros momentos, essa mensagem é uma promessa que Ele mesmo, Javé irá cumprir. Em outros momentos essa mensagem é um apelo.
1 - Tenda lugar de acolhimento aos peregrinos mensageiros de Javé:
“Javé lhe apareceu no Carvalho de Mambré, quando ele estava sentado na entrada da tenda, no maior calor do dia. Tendo levantado os olhos, eis que viu três homens de pé, perto dele; logo que os viu, correu da entrada da tenda ao seu encontro e se prostrou por terra”. (Gn 18,1 -2a)
Assim, estar na entrada da tenda nos possibilita ver quem passa, quem se aproxima, o que necessita, o que traz, o que nos comunica, o que exige de nós uma atitude vigilante: levantar os olhos; exige uma ação: correr ao encontro de quem se aproxima; exige uma pergunta a quem se aproxima: O que precisam? Exige um atitude prática, uma ação: lavar os pés, servir; pede de nós uma oferta: um pedaço de pão.
2 - A Tenda Lugar de Vida - realização das Promessas de Javé
“Eles lhe perguntaram: ‘Onde está Sara, tua mulher?’ Ele respondeu: ‘Está na tenda’. O hospede disse:’ Voltarei a ti no próximo ano; então tua mulher Sara, terá um filho’. Sara escutava, na entrada da tenda, atrás dele. (Gn 18, 9-10)
Na tenda, Javé mostra o seu interesse pelos excluídos, pelos idosos, pelos condenados e condenadas sem vida e sem possibilidade de transmitirem vida e, a neles e a nelas transmiti-lhes vida e aos apoderam com o dom de transmitirem vida.
3 – A Tenda é a Habitação do Testemunho
“E colocarás na Arca do Testemunho que te darei” (Ex 25,16)
“Farás a Habitação com dez cortinas de linho fino retorcido, púrpura violeta, púrpura escarlate e carmesim; tu as farás com querubins bordados”. (Ex 26,1)
4 – A Tenda Lugar de Reunião, encontro com Javé
“Moisés tomou a Tenda e a armou para ele, fora do acampamento, longe do acampamento. Haviam-lhe dado o nome de Tenda da Reunião. Quem quisesse interrogar a Javé ia até a Tenda da Reunião, que estava fora do acampamento. Quando Moisés se dirigia para a Tenda, todo o povo se levantava, cada um permanecia de pé, na entrada da sua tenda, seguia Moisés com o olhar, até que ele entrasse na Tenda. (Ex 33,7a)
Assim, podemos observar, a Tenda ficava fora do acampamento, lugar “distante” do comum da comunidade, mas ficava a vista e alcance de todo o povo, como lugar privilegiado de comunicação com Javé. A presença de Javé é inquestionável, todos veem e sente a sua presença acolhedora. Acolhimento que escuta responde as indagações do povo.
5 – A Tenda lugar de comunicação entre amigos, humildade e formação de novas lideranças
“Javé, falava com Moisés face a face, como um homem fala com seu amigo. Depois ele voltava para o acampamento. Mas seu servidor Josué, filho de Num, moço ainda, não se afastava do interior da Tenda”. (Ex 33, 11)
Assim, a Tenda enquanto lugar de reunião e encontro com Javé, é lugar de humildade, onde Deus se faz um conosco. Javé desce e conversa face a face, se faz amigo, próximo e “igual”. A Tenda exige uma descida até o coração do outro, até a dor do outro. A Tenda nos coloca em posição de igualdade com outro. A Tenda está no cotidiano da comunidade como espaço que possibilita escutar a voz de Javé; nos faz mergulhar no nosso cotidiano fortalecidos pela sua Palavra amiga. A Tenda é um espaço de formação permanente rumo a conquista da Terra Prometida. É um espaço de formação de novas lideranças que desejam assumir o projeto de libertação proposto por Javé, como aconteceu com Josué substituto de Moisés rumo a Terra da promissão.
6 – A Tenda como lugar de presença do Pastor que cuida
“Minha morada foi arrancada, removida para longe de mim, como tenda do pastor”. (Is 38,12)
A Tenda no meio das ovelhas, comunica a presença do pastor que estar no meio de suas ovelhas, que as conduz para prados verdejantes e a águas tranquilas (Sl 23,2). Presença vigilante e protetora contra os ataques das feras. Comunica a presença de Javé , o Pastor de Israel, que cuida, apascenta e se ocupa com o seu rebanho. O Pastor que busca a ovelha perdida e a descarregada, que cuida da ovelha fraturada e abatida. (Ez 34)
7 – A Tenda como Festa e Memória da Libertação
“Três vezes no ano me celebrarás festas. Guardarás a festa dos Ázimos. Durante sete dias comerás ázimos, como te ordenei, no tempo marcado do mês de Abib, porque nesse mês que saíste do Egito. Ninguém compareça de mãos vazias perante mim. Guardarás a festa da Messe, das primícias dos teus trabalhos de semeadura nos campos, e as festa da Colheita, no fim do ano, quando recolheres dos campos o fruto dos teus trabalhos”. (Ex 23, 14 – 17)
“ Celebrarás a festa das Tendas durante sete dias, após ter recolhido o produto da tua eira e do teu lagar. E ficarás alegre com a tua festa, tu, teu filho, e tua filha, o teu servo e a tua serva, o levita e o estrangeiro, o órfão e a viúva que vivem nas tuas cidades.
“Celebrarei assim uma festa para Javé, sete dias por ano. É lei perpétua para vossos descendentes. No sétimo mês fareis esta festa. Habitareis sete dias em cabanas. Todos os naturais de Israel habitarão em cabanas, para que os vossos descendentes saibam que eu fiz os israelitas habitarem cabanas, quando os fiz sair da terra do Egito. Eu sou Javé vosso Deus”. (Lv 32, 41 – 44)
“Três vezes por ano todo varão deverá comparecer diante de Javé teu Deus, no lugar que ele houver escolhido: na festa dos ázimos, na festa das Semanas e na festa das Tendas. E ninguém se apresente de mãos vazias diante de Javé; cada um traga seu dom conforme aa benção de Javé teu Deus te houver proporcionado”. (Cf: Dt 16, 13 – 17)
Como podemos observar na Sagrada Escritura, existiam muitas festas no Antigo Israel, porém três eram as mais importantes: A Festa dos Ázimos (Dt 16, 1 -8); a festa da colheita, também chamada festa das Semanas (Cf: Ex 34,22), que se celebrava durante sete semanas (Cf Dt 16,9). E e a festa da Colheita no outono, no fim da estação dos frutos, chamada festa das Tendas (cf: Dt 13,13; Lv 23, 34), porque nela se utilizavam cabanas de folhagem como as que se levantavam nas plantações no momento da colheita; evocavam a lembrança dos acampamentos de Israel no deserto (Cf Lv 23, 39 – 44)
A festa das Tendas lembra a memória da libertação do Egito. Lembra a memória do Deus libertador agindo em favor do seu povo oprimido. Recorda saída, travessia, colheita e a vida do povo. Javé ordena que ninguém se apresente de mãos vazias, mas o contrário, todos se apresentassem com ofertas para oferecem aos pobres, aos órfão, viúvas e estrangeiros. Assim, a Tenda é lugar de vida e partilha para com os necessitados. Lugar de comida e bebida, de banquete de para os pobres.
8 - As Tendas como realização dos Tempos Messiânicos
“Então acontecerá que todos os sobreviventes de todas as nações que marcharem contra Jerusalém subirão, ano após ano, para prostrar-se diante do rei de Javé dos Exércitos e para celebrar a festa das Tendas”. (Zc 14,16)
A festa das Tendas tinha, portanto, tem caráter messiânico; excitava a esperança do futuro reinado de Deus e da libertação do povo. Seria também, o ponto de encontro das nações gentílicas a cada ano. A nação que não acorresse não receberia a chuva. (Zc 14,17).
No Novo Testamento encontramos diversas textos que se referem a Tenda como manifestação da presença de Javé.
1 - A Virgem Maria, Mãe do Senhor, é a “Tenda” onde Deus se fez carne, a primeira morada do Deus humanado. Na tradição da Igreja rezamos: “Deus salve Virgem, Templo e Sacrário da Santíssima Trindade”:
“O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra; por isso o menino que vai nascer será chamado Filho de Deus”. (Lc 1,35)
2 - Jesus de Nazaré é a “Tenda” onde Deus habita plenamente:
“E o Verbo se fez carne e acampou entre nós”. (Jo 1,14)
3 - Na festa das Tendas Jesus ensina
“Aproximava a festa judaica das Tendas. ...Quando a festa estava pelo meio, Jesus subiu ao Templo e começou a ensinar”. (Jo 7,1; 14)
4 - O ser humano tenda (templo) do Espírito Santo de Deus:
“Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?” (1Cor 6, 19)
“Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo”. (1Cor 3, 16)
“Sabemos, com efeito, que a nossa morada terrestre, esta tenda, for destruída, teremos no céu um edifício, obra de Deus, morada eterna, não feira por mãos humanas”. (2 Cor 5,1)
“Entendo que é justo desperte-vos com as minhas admoestações, enquanto estou nesta tenda terrena, sabendo que em breve hei de despojar-me dela, como aliás, nosso Senhor Jesus Cristo me revelou”. (2 Pd 1,13-14)
O ser humano é a tenda onde Deus habita, mas é uma tenda de caráter transitório, como foi a travessia no deserto.
5 - A Tenda tem um sentido escatológico, não como fim, mas início de um novo tempo, como realização das promessas messiânicas, sinal do Reino de Deus:
“Vi então um novo céu e uma nova terra. Vi também descer do céu, junto de Deus, a a Cidade Santa, uma Jerusalém nova, pronta como esposa que se enfeitou para seu marido. Nisto ouvi uma voz forte que, do trono dizia: ‘Eis a tenda de Deus com os homens. Ele habitará com ele; eles serão o seu povo, e ele, Deus-com-eles, será o seu Deus’”. (Ap 21, 1a-3)
“Então o lobo morará com o cordeiro, e o leopardo se deitará com o cordeiro. O bezerro, o leãozinho e o gordo cordeiro andarão juntos e um menino pequeno os guiará. A vaca e o urso pastarão juntos, juntas se deitarão suas crias. O leão se alimentará de forragem como o boi. A criança de peito poderá brincar junto à cova da áspide, a criança pequena porá a mão na cova da víbora’”. (Is 11,1-8)
3.2 - Objetivo Geral
Anunciar Jesus Cristo na Ponte do Limoeiro e adjacências, pela presença acolhedora, favorecendo o encontro pela escuta fraterna e pela espiritualidade libertador, a partir dessa realidade inserida, à luz da evangélica opção pelos pobres, o cuidado da Casa Comum e testemunhando o Reino de Deus.
3.3 - Público Beneficiado
Os pescadores que residem debaixo da Ponte do Limoeiro e os pescadores que residem nas mediações e periferias e frequentam a localidade; os usuários de crack que frequentam o manguezal e por fim, as mulheres e a população LGBTQI+ que se prostituem para a manutenção do uso de SPA e levarem alimentos para seus filhos.
3.4 - Parcerias
- Movimento de Profissionais Cristãos
- Espaço Neidson (UR 5)
- Grupo de Oração Mães que Oram pelos Filhos
- Paroquia N. Sra. de Fátima - Paulista ( Diácono Florismundo)
- Amigos e Amigas da Tenda
- Amigos e Amigas colaboradores
- Sindicato Solidário (Sindicato dos Bancários)
“Os Doze o acompanhavam, assim como algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e doenças: Maria Madalena,....... Joana, mulher de Cuza, o procurador de Herodes, Susana e várias outras mulheres, que o serviam com seus bens”. (Lc 8,1b - 3).
3.5 – A dinâmica da Tenda do Encontro
- Ambientação: um grupo de pessoas prepara o ambiente pela manhã;
- A partir das 11h – 12h transportar e montar todo o material ( tenda, tapetes, mesas, cadeiras, toalhas, ambão, cruz de São Damião, lanches, água, etc), enfim toda infraestrutura;
- Às 14h inicio de ensaio dos cânticos e apresentação de temas: CEN – ECOLOGIA – LITURGIA etc;
- Às 14h e 30 – 15h - Celebração da Palavra: seguimos o esquema do Oficio Divino das Comunidades;
- Utilizamos muito mantras, silêncio e cânticos repetitivo para facilitar a participação de todos e todas inclusive das crianças.
- Benção e distribuição da refeição – servida por grupo de 25 pessoas ( quatro grupos) e outros que chegam depois,
- Desmontagem, transportar e guardar o material na capela de Santo Amaro das Salinas;
- Visita as irmãs e aos irmãos que vivem a maior parte do tempo no manguezal levando água, biscoitos e quentinhas e oração.
4 – A TENDA DO ENCONTRO É FRUTO DE UM PROCESSO DE CONVERSÃO EVANGÉLICA E PASTORAL:
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– Novo olhar sobre o ser humano: O homem e a Mulher centro da criação Divina:
“Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, à imagem e Deus Ele o criou, homem e mulher Ele os criou”. (Gn 1,27)
“Quando vejo o céu, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que fixastes, que é o homem, para dele te lembrares, e um filho de filho de Adão, para vires visita-lo?
E o fizeste pouco menor do que um deus, coroando-o de glória e beleza. Para que domine as obras de tuas mãos sob seus pés tudo colocaste: as ovelhas e bois, todos, e as feras do campo também; e a ave do céu e os peixes do mar quando percorre ele as sendas dos mares”. (Sl 8, 4 – 9).
- Em Jesus, o ser humano foi revestido pela Divindade:
“Ele, estando na forma de Deus não usou o seu direito de ser tratado como um deus, mas se despojou, tomando a forma de escravo. Tornando-se semelhante aos homens e reconhecido em aspecto como um homem, abaixou-se, tornando-se obediente até a morte, à morte sobre uma cruz”. (Fl 2,6-8).
“E o Verbo se carne e acampou entre nós; e nós vimos a sua gloria, gloria que Ele tem junto ao Pai como Filho único, cheio de graça e verdade”. (Jo 1,14).
- O ser humano é o centro da ação libertadora de Jesus:
“Levanta-te e vem aqui para o meio”. (Mc 3,3).
“Disse-lhes Jesus: ”Vinde em meu seguimento e eu farei de vós pescadores de homens”. (Mc 1,17).
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– Um novo olhar visão de Igreja: Os pobres são os primeiros destinatários do anúncio do Evangelho:
Concilio Vaticano Segundo – Lumen Gentium (Constituição e Natureza da Igreja) = “Povo de Deus” = os batizados, bispos, presbíteros, diáconos, religiosas e religiosos.
A comunidade dos discípulos e discipulas de Jesus é uma comunidade de amigos, de fraternidade onde não existem precedências. Tosos são tratados por iguais:
“Havia um enfermo, Lázaro, que era de Betânia, povoado de Maria, de sua irmã Marta. Maria era aquela que ungiu o Senhor com bálsamo e lhe enxugara os pés com os cabelos. Seu irmão Lázaro se achava doente.... Ora, Jesus amava Marta e sua irmã e Lázaro”. (Jo 11,1 -2. 5).
“Depois, põe água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido... Chega, então, a Simão Pedro, que lhe diz: “Senhor, tu, lavar-me os pés?1”. (Jo 13. 5 – 6).
“Entre vós não será assim: ao contrário, aquele que entre vós quiser ser grande, seja o vosso servidor, e aquele que quiser ser o primeiro entre vós, seja o servo de todos. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgaste por muitos”. (Mc 10, 43 – 45).
“Todos os que tinham abraçado a fé reuniam-se e punham tudo em comum: vendiam suas propriedades e bens, e dividiam-nos entre todos, segundo as necessidades de cada um”. (At 2, 44 – 45).
“Ninguém considerava exclusivamente seu o que possuía, mas tudo entre eles era comum.... Não havia entre eles necessitado algum”. (AT 4, 32b. 43ª).
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– Uma releitura sobre a Caridade Cristã:
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A Caridade que é fruto da justiça do Reino: Deus é nosso Pai e nós somos irmãos e irmãos:
O rico e Lázaro: Lc 16, 19 – 31. “Pai Abraão, eu te suplico, envia então Lázaro até a casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos; que leve a ele seu testemunho, para que não venham eles também para este lugar de tormento”. (Lc 16,27 -28)
O Filho Pródigo: Lc 15,11-32: “Ele, porém, respondeu a seu pai: ‘Há tantos anos que te sirvo, e jamais transgredi um só dos teus mandamentos, e nunca me deste um cabrito para festejar com meus amigos. Contudo, veio esse teu filho, que devorou teus bens com prostitutas, e para ele matas o novilho cevado!’ (Lc 15,29-30).
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A caridade que é inclusiva:
“Iahweh dos Exércitos prepara para todos os povos, sobre esta montanha, um banquete de carnes gordas, um banquete de vinhos finos, de carnes suculentas, de vinhos depurados”. (Is 25,6)
“Ah! Todos que tendes sede, vinde à água. Vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; comprai, sem dinheiro e sem pagar, vinho e leite”. (Is 55,1)
“... desse modo vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos Céus, porque ele faz nascer o seu sol igualmente sobre os maus e bons e cair a chuva sobre justos e injustos”. (Mt 5, 45).
“E esses servos, saindo pelos caminhos, reuniram todos que os encontraram, maus e bons, de modo que a sala nupcial ficou cheia de convivas”. (Mt 22,11).
c) A caridade dignifica, cria liberdade, igualdade e supera todo autoritarismo
“..Levantou-se da mesa, depõe o manto e, tomando uma toalha, cinge-se com ela. Depois põe água numa bacia e começa a lavar os pés dos discípulos e a enxuga-los com a toalha que estava cingido.” (Jo 13, 4-5)
- A ação de ação de Jesus deve ficar gravada na mente e no coração dos discípulos como norma para a sua comunidade.
-A comunidade deve se despojar de toda atitude de autoritarismo e poder e se revistir da toalha, pano ou avental de que serve.
- Jesus não tira a toalha, pano ou avental, pois o seu serviço, o seu amor são permanentes, assim como deve ser o serviço da comunidade. Um amor que presta serviço a humanidade até da a sua vida como o seu Mestre e Senhor.
- Ao lavar os pés dos discípulos, Jesus destrói a ideia de um Deus que age como soberano celeste, acima de tudo e todos, e revela um Deus que age na história como servidor do próprio ser humano.
- A cena do lava-pés, nos revela ainda o trabalho de Deus em favor da humanidade, um amor, uma caridade que não é esmola, como algo que vem de cima para baixo, mas de baixo, elevando o ser humano ao seu próprio nível.
- Jesus como Mestre e Senhor, ao lavar os pés dos discípulos, eleva-os a categoria de senhor, sendo senhores os faz livres, assim cria igualdade, fraternidade, eliminando toda hierarquia.
- Nem o desejo de fazer o bem pode justificar posicionar-se acima do ser humano independentemente da sua situação. Nada justifica.
- Posicionar-se acima do ser humano, é posicionar-se acima de Deus, que serve sem acessar a humidade inteira elevando-a a si. Para a superioridade não há justificativa.
d) A Caridade é a constituição, Identidade e norma da Comunidade dos discípulos de Jesus:
“Dou-vos um mandamento novo: que vos amei uns aos outros. Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros”. (Jo 13,34. 14,12)
- A assimilação da vida e morte de Jesus é norma para a vida da comunidade.
- Essa norma é também a maneira de agir da comunidade.
- A norma é ser como Jesus em toda sua capacidade de amar:
“como eu vos tenho amado”. (Jo 13,34)
Amar consiste em acolher, e pôr-se a serviço dos outros a fim de dar-lhes dignidade e liberdade (lava-pés), sem limites, sem discriminação alguma e com sumo respeito a sagrada liberdade de cada ser humano ( Judas que saiu com pedaço de pão na mão simbolizando a própria vida de Jesus).
e) A caridade é se fazer próxima
“E eis que um legista se levantou e disse para experimentá-lo: ’Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna? Ele disse: ‘O que está escrito na Lei? Como lês!.... Jesus disse: ‘Respondeste corretamente; faze isso e viverás’. Ele porém, querendo se justificar, disse a Jesus: ‘E quem é o meu próximo? Jesus retomou: ‘Um.... Qual dos três, em tua opinião, foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?”. (Lc 10, 25-26.29-30.36)
5 – Os pobres – Primeiros destinatários do Amor-cuidado de Deus
“Quando houver um pobre em teu meio, quer seja um só dos teus irmãos numa só das tuas cidades, na terra que Javé teu Deus te dará, não endurecerás teu coração, fecharás a mão para com teu irmão pobre”; (Dt 15,7)
“Por acaso não consiste nisto o jejum que escolhi: ... Não consiste em repartir o teu pão com o faminto, em recolheres em tua casa os pobres desabrigados, em vestires aquele que vês nu e em não te esconderes daquele que é tua carne?” (Is 58, 6-7)
“Pois Ele liberta o indigente que clama e o pobre que não tem protetor; tem compaixão do fraco e do indigente e salva a vida do indigente. Ele os redime da astúcia e da violência, o sangue deles é valioso aos seus olhos”. (Sl 72(71), 12-14).
“Quem é como Javé o nosso Deus? Ele se eleva para sentar-se e se abaixa para olhar pelo céu e pela terra. Ele ergue o fraco da poeira e tira o indigente do lixo, fazendo-o sentar-se com os nobres, ao lado dos nobres do seu povo; faz a estéril sentar-se em sua casa, como alegre mãe com seus filhos.” (Sl 113(112), 5-9)
6 – Jesus, o Reino de Deus e os Pobres
- A origem de Jesus:
- Nazaré - cidade humilde da periferia da Galileia, região de povo mestiço, impuro, lugar de gente de que não prestava:
“Perguntou-lhe Natanael: ‘De Nazaré pode sair algo de bom?’” (Jo1,46)
Natural de Belém, a menor cidade da Judeia: ”E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor cidade entre os clãs de Judá, pois de ti sairá o chefe que apascentará Israel, o meu povo” (Mt 2,6)
- No início e na proclamação do seu ministério escolheu os pobres:
“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou pela unção para evangelizar os pobres: enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor”. (Lc 4, 18-19)
“Jesus respondeu-lhes: “Ide contar a João o que ouvis e vedes: os cegos recuperam a vista, os coxos andam, os leprosos são purificados e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados.” (Mt 11,5-6)
Jesus é presença no pobre e oprimido, O Emanuel, o Deus Conosco
“Em verdade vos digo: cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes”. (Mt 25, 40)
- A Comunidade é dos e para os pobres, lugar da presença de Jesus
“Pois os pobres os tendes sempre entre vós, ao passo que a mim não me havereis de ter sempre”. (Jo 12, 8)
- A relação comunidade e os pobres, os quais não são o termo de atividade voltada para o exterior, como se estivessem fora do grupo cristão; são considerados como estando dentro dela, ou porque pertencem à comunidade ou porque são acolhidos nela. A comunidade está separada do mundo, mas não dos pobres.
A Comunidade não se distingue dos pobres, é comunidade de pobres que se amam e que, por meio da partilha, expressão do amor, superam sua condição de oprimidos.
- O amor que torna Jesus presente na comunidade se identifica ao seu amor, é necessariamente amor mútuo. O amor que integra e cria comunidades de iguais.
- Por isso os pobres não podem ser objeto externo da solicitude da comunidade.
- O amor não consiste em dar esmola, mas consiste em acolher, admitindo à própria mesa e à própria intimidade. É dessa forma que os pobres haverão de estar sempre entre os discípulos de Jesus.
7 – Evangelizar os Pobres
- O Pe. José Comblin nos recorda que a Igreja na América Latina fez uma fez uma opção preferencial pelos pobres e evangelizar os pobres é sinal da chegada do reino de Deus,
- Evangelizar os pobres é restituir aos pobres a palavra que fala de Deus. Como sinal dessa Palavra de Deus ente os pobres, com os pobres e para os pobres, em nossos encontros semanais, nunca deixamos de colocar o AMBÃO em lugar de destaque na TE.
- Evangelizar os pobres é também restituir aos pobres a oração. E não pode ser uma pobre oração.
- A oração é a expressão da Liberdade interior: A oração não pode ser o suspiro de resignação do escravo, não pode ser a súplica do desesperado que pede algumas migalhas do festim. Não pode ser a petição do mendigo e nem a expressão de uma passividade submissa diante do destino.
- A libertação dos pobres se exprime na palavra de homens livres. E essa palavra é a oração do povo de Deus –
- A oração mais profunda, mais pessoal, mais interior, mais mística ... e simples, e de uma simplicidade somente acessível aos simples.
- Evangelizar é a razão de ser da Igreja, por isso é Evangelizar é o centro da Missão da Igreja.
Mas Evangelizar, o que É? É anunciar as mensagens dos Evangelhos.
Quais são as mensagens dos Evangelhos? O Anúncio de Jesus Cristo
Jesus Cristo, Evangelho e Anunciador do Pai.
Jesus anuncia o advento do reino do Pai.
Reino do Pai: Vida e liberdade para todos seres humanos.
Fonte da Evangelização: Evangelho anunciado por Jesus Cristo – Essa mensagem proclamada por Jesus em uma realidade histórica, em uma terra, para o um povo.
Jesus entregou aos discípulos a tarefa de comunicar verbalmente e por escrito o seu Evangelho. Assim Jesus quis, não apenas um Evangelho, mas vários Evangelhos.
- Essa multiplicidade é significativa, pois cada um dos Evangelistas nos propõem uma releitura do Evangelho de Jesus.
Essa diversidade na percepção e na vivência de Jesus Cristo é porque Ele não veio fundar uma nova religião, mas sim para salvar e levar a sua plenitude as religiões, as filosofias, e as sabedorias dos povos.
- Jesus anunciar a todos a libertação de todas as forma de dominação, d escravidão que há em todos os povos, religiões, filosofias, e sabedoria dos povos.
- O Evangelho é a resposta do Pai ao clamor implícito e explicito de cada povo que pede, que suplica e aspira pela libertação.
- O Evangelho nunca será ponto de partida, nunca subsistirá sozinho. Será sempre uma resposta ao apelo humano.
- O Evangelho sempre será diverso porque os apelos das pessoas são diversos; as formas de escravidão são diversas, por isso o Evangelho assume formas diversas.
- A tarefa do evangelizador: Encontrar no Evangelho de Jesus Cristo a resposta ao apelo das pessoas que ele recebeu e procurou compreender, resposta que não é teórica mas vivencial, resposta que é um descobrir juntos o Evangelho de Jesus numa determinada situação.
- Em seu livro o intitulado O Tempo da Ação, O Pe. José Comblin, no capítulo 9, item 2, que desenvolve o tema A Libertação dos Pobres e suas Mediações nos recorda que:
1 – Desde o inicio do cristianismo os movimentos e os fenômenos históricos que surgiram onde o cristianismo se implantou, assumiram como objetivo, a libertação dos pobres. Exemplos:
- Império Bizantino: promover na sociedade a igualdade existente nas primeiras comunidades cristãs por meio de uma relação entre iguais;
- A libertação do povo cristão foi o programa dos papas gregorianos e ainda, o papa era o último recurso para que fosse feita justiça para os pobres (Joana d’Arc)
- Os reis justificavam a sus missão divina pelo cuidado com os pobres.
- A Reforma que buscou o ideal da comunidade de irmãos livres dos reis e dos padres.
- A modernidade denunciou dos pobres pelos padres, ao mesmo tempo irá criar uma sociedade industrial, que irá libertar os pobre por meio tangíveis e matérias, e não mais por meio de promessas.
- No novo cristianismo, os homens devem se comportar como irmãos uns dos outros como nas comunidades cristãs primitivas, e assim, a religião deve dirigir a sociedade com o objetivo de melhorar o mais rápido possível a situação dos pobres.
O Pe. Comblin nos recorda que a melhoria da situação dos pobres ou a sua promoção foi o programa das revoluções e também e a novidade do Espirito e do próprio cristianismo.
- Então a tradição cristã a presenta um distinção entre as duas ações:
1) A ação dos pobres que se libertam
2) A ação dos outros para libertar os pobres
- A medição dos outros é necessária, mas jamais poderá substituir a ação dos pobres.
- A Doutrina do Discernimento: A pessoa não pode substituir a escolha feita pelos pobres, nem destruí-la. O princípio ultimo da ação está na base, no homem comum e no cotidiano, não no especialista.
Nenhuma ação de libertação feita pelos pobres consegue substituir a ação dos próprios pobres. O Espirito sobe a partir de baixo da humanidade e constitui o povo de Deus no nível mais baixo.
- Se é verdade que que as mediações são necessárias para libertar os pobres, não é menos verdades que as escolhas feitas em seu lugar não irão conduzi-los à sua liberdade. Ninguém pode ser libre no lugar do outro. A pedra de toque no Espirito do Cristo é, pois a participação a participação efetiva dos próprios pobres e mesmos a primazia de suas escolhas. São eles mesmos que devem discernir o caminho.
- Uma representação é necessária para fazer entrar nas estruturas do mundo a vontade dos pobres. Mas a representação não pode substituir os pobres.
8 - O MEU MESTRE MORREU CRUCIFICADO
“Quando Jesus tomou o vinagre, disse: ‘Está consumado!’ E, inclinando a cabeça, entregou o espírito”. (Jo 19,30)
- Na Cruz abandonado
- Na Cruz traído
- Na Cruz nú
- Na Cruz desfigurado
- Na Cruz com fome
- Na Cruz com sede
- Na Cruz odiado
- Na Cruz amaldiçoado