Relato da Sessão de Encerramento da XV Semana Teológica Pe. José Comblin, 2025
Na manhã do dia 27/09/2025, na Casa dos Sonhos, uma organização coordenada pelas Irmãs Dominicanas, que trabalha com crianças e adolescentes do bairro, vivenciamos o encerramento da XV Semana Teológica Padre José Comblin, com o tema “José Comblin, com os empobrecidos e empobrecidas de hoje, assumindo o Projeto de Jesus”. Do encontro participaram componentes dos diversos grupos co-organizadores das Semanas Teológicas, bem como membros da comunidade local e outros convidados, quem temos a alegria de nomear, por grupos: Irmã Judith e Fátima, da Casa dos Sonhos; Padre Hermínio Canova, do Centro de Formação Pe. José Comblin; João Batista Barbosa, Elenilson Delmiro e Pe. Hermínio, do grupo Comblin; Alder Júlio, Glória Carneiro, Edna Maria, Lúcia Maria e Aparecida (Cida), dos grupos Kairós e CEBI; Elizângela e Padre Eliezer, do Movimento “Laudato sì”; Padre Adelino, da Fraternidade Charles de Foucauld; José Carlos, Ana, além de Alder, do grupo Caminhos de Liberdade; e os convidados Michelle Gonçalves e Robson Oliveira, da Rede Caminho da Esperança.
A mística de acolhimento foi conduzida por Glória, que iniciou os trabalhos convidando a todas e todos a cantarmos juntos a música “Liberdade” (na voz de Zé Martins, compositor e intérprete). Em seguida Cida dirigiu palavras de boas-vindas e relembrou o sentido do encontro fazendo referência à construção das Semanas Teológicas Pe. José Comblin. Cida nos situou na temática, lembrando que essa 3ª e última jornada da Semana Teológica, pretende ser uma memória viva do legado deixado pelo Pe. José Comblim. Fez menção à presença dos convidados, Michelle e Robson, como expositores/provocadores do tema central da XV STPJC, já antecipando-lhes os agradecimentos e apresentado breves dados biográficos de cada um. Logo após, tomando como referência o Evangelho do dia (Lc 16:19-31), Glória trouxe como momento de espiritualidade o poema “O Abismo que Construímos”, de autoria de Vitor J. Barreto. Bastante instigador e muito próximo ao tema central da Semana Teológica, o poema nos convoca a refletir sobre nossa posição frente aos empobrecidos - “os Lázaros” - de hoje, quando nos questiona:
Hoje a Palavra pergunta: Quem é Lázaro à nossa porta? É o migrante cansado, A mãe de barriga torta, O morador de rua esquecido, Que a miséria quase corta. |
E nós, que bens recebemos? Como usamos tal herança? Pra erguer muros de medo Ou construir esperança? Pra manter desigualdade Ou lutar por mudança? |
Em seguida, Glória propôs que fizéssemos a recordação da vida, tendo como mote datas marcantes para dois dos nossos irmãos de caminhada - o Pe. Hermínio e o Alder Júlio. Como homenagens, uma foi a lembrança do trabalho missionário no Nordeste, realizado pelo Pe. Hermínio Canova, prestes a completar, em janeiro próximo, seus 80 anos, dos quais mais de 50 em terra e entre os camponeses nordestinos, animando a CPT. E outra, a bela homenagem prestada ao Alder, pelo aniversário de sua trajetória diaconal (49 anos). Na ocasião, Elenilson leu um poema de autoria do próprio Alder Júlio, intitulado: “Diaconia como Práxis do existir”. Algumas pessoas fizeram memória de alguma experiência marcante que vivenciaram com Alder: José Carlos, Edna, Cida, Elenilson e João Batista. Em sua fala, Edna compartilhou conosco um Toré do Povo Xucuru do Ororubá: “Reina, reina, reina! Reina, reina, reiná, vamo unir as força no Ororubá”! Os Xucuru do Ororubá é um povo indígena de Pernambuco, que habita a Serra do Ororubá, nos municípios de Pesqueira (Cidade natal de Alder) e Poção. Os Xukuru têm uma forte ligação com a natureza, que consideram sagrada e a principal manifestação do sistema cosmológico xukuru é o Toré, uma expressão que combina cantos, danças e rituais.
Ainda durante as apresentações, diversas pessoas houveram por bem de rememorar elementos de suas atividades sobre as quais vale a pena registrar aspectos relevantes de sua fala. Da parte de nossa anfitriã, Ir. Judith, Religiosa Dominicana argentina, em missão em Várzea Nova (Santa Rita-PB), juntamente com sua co-irmã Religiosa Ir. Estela, desde a segunda metade dos anos 90, tendo sido bem acolhidas pelo Pe. José Comblin e a missionária Mônica Muggler, em casa de quem conviveram algum tempo. Ir. Judith fez questão de destacar as qualidades missionárias e proféticas do Pe. José, além de haver lembrado todo apoio e incentivo às duas Religiosas na fundação da Casa dos Sonhos, que atende a dezenas de crianças pobres da comunidade de Várzea Nova, no mesmo espaço em que ser realizou o nosso encontro de encerramento.
Padre Hermínio, tomou a palavra e colocou a importância da Semana Teológica com os ensinamentos de Papa Francisco, considerando que há uma aproximação entre Francisco e Comblin, já que existe um ditado que fala que os sapatos de Francisco estão sujos do Evangelho de Cristo. Pe. Hermínio destaca que há um diálogo implícito entre Comblin e Papa Francisco, dentro da perspectiva de Igreja em Saída, ao mesmo tempo em clara sintonia com o teólogo José Antonio Pagola, especialmente a partir de seus livros “Voltar a Jesus” e “Recuperar o Projeto de Jesus”. Por fim, padre Hermínio apela para que todos que possam conhecer e ler a obra de Comblin, o “Espirito Santo e a tradição de Jesus”.
Importa ainda destacar que é de autoria de Comblin o livro intitulado “Jesus de Nazaré” (Vozes, 1975) no qual mais diretamente nos inspiramos para os trabalhos desta XV STPJB, como subsídios para as Jornadas Comunitárias que antecederam imediatamente essa Sessão de Encerramento.
Outras pessoas participantes também deixaram marcas do seu trabalho. Uma delas, Elizângela, destacou as iniciativas relativas aos grupos por ela animados, na Comunidade Paroquial de Santana, no bairro Funcionários II, especialmente no tocante aos grupos comprometidos com tarefas propostas pelo Papa Francisco, em sua Encíclica “Laudato sì”. Com efeito, diversas iniciativas de alcance social e comunitário vêm sendo realizadas, não apenas quanto aos estudos sobre a Encíclica, como também a projetos comunitários de Educação Ambiental a exemplo do que lida com materiais recicláveis e reutilizáveis em parceria inclusive a projetos de extensão promovidos pela UFPB. Elizangela ainda fez questão de registrar a recente participação de representantes da Laudato sì/João Pessoa, no encontro nacional recém realizado na UNICAP, em Recife, acerca das iniciativas e atividades decorrentes do Movimento “Laudato sì”. Importa lembrar a complementação feita pelo Pe. Eliezer, pároco da comunidade paroquial de Santanta, acerca das experiências comunitárias a que se referira Elizângela. Outro registro feito, ainda durante as apresentações, veio dos participantes do grupo Caminhos da Liberdade, José Carlos e Ana, também eles Missionários do Campo, vinculados à Associação dos Missionários e Missionárias do Campo, sempre realçando a relevância da contribuição do Pe. José Comblin, ao longo da caminhada das comunidades ligadas à Teologia da Enxada.
Embora não explicitadas, convém deixar registradas algumas das atividades realizadas em conjunto por membros dos grupos Comblin, Kairós, CEBI, CPT e outros, em várias oportunidades, como: estudos; debates; rodas de conversa e engajamento nas causas e militâncias socioambientais e territoriais; estudos e aprofundamentos na leitura popular da bíblia; nas temática da cosmovisão, espiritualidade e religiosidade dos povos originários e de matriz africana; na Teologia Feminista da Libertação, entre outras.
Finalizadas as apresentações, Michelle e Robson, valendo-se de recursos audiovisuais (música, vídeo, “slides”), iniciaram a exposição com a canção de Zé Vicente “Pelos caminhos da América”, grande símbolo da caminhada latino-americana de Libertação, expressando o poder dos símbolos e sua importância para os mais jovens. Questionaram sobre quais as nossas referências e quem nos inspira? Para Michelle, as referências do passado, se juntam as novas referências, somando-se e ajudando a criar novas referências no caminhar libertador. Ao perguntar, “O que vocês lembram quando ouvem essa música?”, algumas pessoas partilharam suas lembranças. Michelle retoma a palavra e diz que essa música embalou a caminhada de muita gente da “velha guarda” e também das juventudes de hoje. Muitos símbolos permanecem vivos até hoje.
Ainda sobre as referências do passado, os expositores apresentaram um trecho do filme “Anel de Tucum”, que apresenta a luta do Bispo Dom Pedro Casaldáliga e dos camponeses contra a exploração dos latifundiários. Um dos trechos mais marcantes é quando Dom Pedro afirma que na vida “tudo é política, mesmo que o político não seja tudo”.
Com uma metodologia dialógica, após a apresentação do trecho do filme, Michelle indaga aos presentes: “Quem de vocês usa o anel de tucum?”, “Quem deu esse anel a vocês?”, “O que ele significa?”, “Quando você reafirmou esse compromisso?”. Em seguida pediu que, em dupla, os presentes fizessem um breve cochicho sobre essas questões. Após a partilha dos presentes, Michelle reforça a importância de sempre voltar para os primeiros encantamentos e rememorar nosso primeiro chamado, que alimenta e revigora as nossas forças, durante a caminhada. É nesse sentido, que se apresenta, por exemplo, o anel de tucum, como um símbolo que nos ajuda a não esquecermos do nosso compromisso. Para Robson, esse momento é importante por entender que retomar símbolos, projetos, sujeitos e compromissos é essencial para recuperar o Projeto reinocêntrico de Jesus e de sua Boa Nova – “O caminho que queremos fazer com vocês é retomar os sujeitos, o projeto e por fim, retomar nosso compromisso” (Robson).
Em seguida, Michelle inicia a exibição dos “slides” – correspondendo à terceira etapa de sua exposição –, com uma sequência de tópicos para reflexão. O primeiro deles, intitulado “A urgência dos empobrecidos de hoje”, traz um panorama estatísticos da realidade da população brasileira. A partir dos dados apresentados, Michelle e Robson procuram dar visibilidade à população que representam empobrecidos e empobrecidas de hoje. São os desempregados, os subempregados, as populações carcerárias, as pessoas moradoras de zona de riscos, as pessoas LGBTQIAPN+, as mulheres, os jovens, negros, os indígenas, a população em situação de rua. Ainda foi acrescentado, pelos presentes, os “deslocados” (por conta das guerras, da pobreza e da fome, das mudanças climáticas e da violência).
Trazendo as Juventudes para o centro da discussão, Michele faz uma provocação ao rememorar que a “opção preferencial pelos pobres”, defendida nas décadas de 60 (Medellín) e 70 (Puebla), é na verdade “opção preferencial pelos pobres e pelos jovens”, porém os jovens foram esquecidos. “Onde estão? Onde os jovens hoje, estão? Onde estão os jovens na CPT? Onde estão os jovens nos grupos de Estudos? Onde estão os jovens nos movimentos sociais? O Intereclesial em comemoração aos 50 anos será sobre as Juventudes, e será a primeira vez que o evento celebrará os jovens”. E continua com a provocação: “Não estamos falando de destinatários de um projeto, mas do Sujeito do projeto”.
Diante das reflexões apresentadas pela expositora, Alder Júlio pediu a palavra para compartilhar sua análise sobre a temática dos empobrecidos e sua relação com a riqueza, destacando sobretudo a necessidade de se trabalhar a relação entre pobres e ricos. Já não bastando concentrar nossa atenção exclusivamente nos pobres. Ele ressaltou ainda que essa relação não deve ser vista de forma ingênua ou simplista, como se fosse apenas uma diferença de posse material. Trata-se, na verdade, de uma relação histórica e estrutural de dominação e exploração, na qual a riqueza de poucos se constrói, muitas vezes, à custa da privação e da exclusão de muitos. Alder destacou ainda que compreender essa dinâmica é fundamental para não cair na armadilha de naturalizar a pobreza ou de responsabilizar os próprios empobrecidos por sua condição. Pelo contrário, é preciso reconhecer neles sujeitos de resistência e transformação. Por isso, reforçou a importância da organização coletiva dos pobres como caminho essencial para romper com as estruturas de desigualdade e construir novas formas de justiça social. Ele concluiu lembrando que toda reflexão sobre os empobrecidos deve partir dessa consciência crítica da relação de poder que os mantém nessa condição. Ainda nas discussões, Elizangela sugeriu incorporar no mapa de novos empobrecidos o caso dos “deslocados” pelas usinas de produção de energia eólica. E o Pe. Hermínio lembrou que essa questão dos empobrecidos já haviam sido discutida, inclusive, sobre os uberizados e as diferentes formas de migrações forçadas.
A partir do segundo tópico da apresentação, os expositores possibilitam o diálogo com Comblin, a partir de sua obra, instigando-nos a aprofundar a reflexão sobre empobrecidos e empobrecidas de hoje. Assim, o tópico O Projeto de Jesus, vai nos lembrar que:
“Jesus anuncia o Reino de Deus: vida do povo como lugar da presença de Deus, a vida libertada das dominações, aberta à fraternidade e à justiça” (Comblin, José: O Caminho. Ensaio sobre o seguimento de Jesus. São Paulo: Paulus, 2004 p. 34).
“A grande mensagem de Jesus é a liberdade. Ele não aceita nenhum sistema de dominação. A sua Boa-Nova é a libertação de todo o poder que oprime”. (Comblin, José. Vocação para a liberdade. São Paulo: Paulus, 1998, p. 15)
Como provocação, indaga: “Qual projeto nos faz olhar para essa realidade e transformá-la?” E afirma, “Jesus é o fundador de um projeto, projeto do Reino de Deus, que é materializado no mundo”. “O Reino de Deus como projeto de liberdade.”
Dentre os presentes, algumas intervenções: “O Brasil o ‘maior’ país cristão do mundo e tudo isso acontecendo... Na maioria das vezes quando falamos em ‘pobre’ nos excluímos e nos esquecemos que o correto seria dizer empobrecido/empobrecida”. (Glória); “Sempre que falarmos em empobrecidas(os) é preciso lembrar da relação que produz essa situação. Temos que falar da riqueza acumulada” (Alder).
O terceiro tópico tratou Os pobres como sujeitos do projeto. Aludindo Comblin, destaca:
“Jesus realiza a libertação pela vida e pela atividade dos próprios pobres. Jesus está neles, animando-os para construir esse Reino de liberdade.” (Comblin, José. Os pobres e a libertação. {Artigo inédito} IHU. 2011)
O quarto tópico aponta A comunidade messiânica como Igreja dos pobres. O projeto de Jesus gera uma comunidade alternativa, marcada pela fraternidade e pelo serviço. Para Comblin, essa comunidade só é fiel se nasce dos pobres e se reconhece neles, pois:
“Os pobres são a verdadeira Igreja, o verdadeiro povo de Deus, ainda que a sua presença no sistema religioso possa ser muito fraca.” (Comblin, José. Os pobres e a libertação {artigo inédito}, IHU, 2011)
No quinto tópico refletimos sobre O seguimento como encarnação do projeto. O grande desafio, nesta conjuntura eclesiástica de fuga da realidade é não “desencarnar o que Deus quis encarnado”. O Projeto de Jesus é processo e é coletivo.
“O seguimento de Jesus não é imitação exterior. É pôr-se a caminho, deixar-se guiar pelo mesmo Espírito, continuar sua prática de anunciar e viver a liberdade do Reino.” (Comblin, José. O Caminho. Ensaio sobre o seguimento de Jesus. São Paulo: Paulus, 2004, p. 87)
Após a primeira parte da apresentação com “slides”, em que os expositores fazem o diálogo com Comblin, Michelle e Robson seguem na condução do raciocínio para se pensar o hoje e quais os passos necessários para a concretização da ação. Coube a Robson dar início à segunda parte da apresentação, refletindo sobre o tema “Pensar o Reino de Deus”, com foco especial no Reino de Deus junto aos pobres. Ele destacou que esse Reino não é algo distante ou abstrato, mas uma realidade que se constrói a partir das vivências concretas e dos lugares onde o povo vive, luta e resiste. Inspirando-se na visão teológica de José Comblin, Robson recordou que o Reino de Deus se manifesta nas pequenas transformações cotidianas e nos gestos de solidariedade e justiça. Segundo Comblin, “os povos estão se libertando todos os dias”, e é nesse processo contínuo que o Reino vai se fazendo presente na história. Por fim, Robson enfatizou ainda a importância de reconhecer e celebrar as pequenas vitórias do povo, pois cada conquista representa um passo na caminhada de libertação. Pensar o Reino de Deus, portanto, é também assumir o compromisso de promover a vida, a dignidade e a esperança entre os empobrecidos, onde a presença de Deus se revela de forma mais concreta e verdadeira.
Esta parte da apresentação foi organizada em 5 pontos, pensados a partir da proposta teológica de José Comblin, cujas obras referendam a proposta central do tema da Semana Teológica, ou seja, “Assumindo o Projeto de Jesus com os empobrecidos e empobrecidas, hoje”.
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O Projeto de Jesus. (livro O Caminho)
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O Reino como projeto de Liberdade (livro Caminhos da Liberdade).
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Os pobres como sujeitos do Projeto (livro Os pobres e a Libertação)
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A Comunidade Messiânica como Igreja dos Pobres (livro Os pobres e a Libertação).
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O seguimento como encarnação do Projeto (livro O caminho).
Ainda sobre esses pontos foram ressaltados, como complementos, outros, tais como: “O Projeto de Jesus é um mundo de justiça e de novas relações (de amor, de cuidado, de zelo e de respeito)”. “O projeto de Jesus não é Religião e não necessariamente Igreja”. “O pobre é o construtor do reino de Deus”. “O projeto de Jesus não é apenas para os pobres, mas é construído junto com os pobres”. “Os pobres são um lugar teológico, de acordo com Medellín e Puebla”.
Chegando ao fim da exposição, a dupla expositora nos convida para assumir o projeto de Jesus com os empobrecidos e empobrecidas de hoje,
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a partir de uma escuta atenta e presença concreta – “Cadê nossa ternura no cotidiano?”;
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a partir de uma formação libertadora (e contínua) e por meio de uma transformação estrutural – “A colonização continua hoje, no nosso ser, no nosso fazer e no nosso crer”;
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por meio de uma Metodologia evangélica – “de natureza circular onde todas as pessoas são importantes”;
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e uma Espiritualidade da esperança – “um Espírito de Liberdade, tenho o amor por opção radical, como opção ética perante a vida, como postura amorosa perante a vida”. Já que temos o grande desafio de “não Desencarnar o que Deus quis encarnado”.
E finalizam com uma provocação para ser partilhada entre os presentes:
Como, a partir da minha realidade, eu posso mobilizar e construir o Projeto De Jesus?
Dessa provocação, vieram algumas posições partilhadas: - Pe. Hermínio: Formação. Resgatar a memória histórica das resistências com as juventudes. Fomentar a consciência de classe; - Alder Júlio: Chegar junto das juventudes. A gente mesma se inserir num processo de formação continuado. Trabalhar a relação ricos X pobres; - José Carlos: apresentou as obras e iniciativas desenvolvidas por Padre Chico na comunidade, ressaltando seu compromisso com a organização social e o fortalecimento das lutas das trabalhadoras. Suas ações foram lembradas como exemplo concreto de fé encarnada na realidade do povo e de compromisso com o projeto do Reino de Deus entre os mais simples; - Pe. Adelino: Louvo a Deus por experiências como esta, que tem resistido, porque não é o que se vê no seio da Igreja atualmente, em que se privilegia são as práticas desencarnadas da vida real. Continuemos nessa luta e nesse caminho por uma Igreja que liberta; - Pe. Eliezer: No espaço onde me encontro, tento privilegiar a escuta e através dela tenho percebido quantas pessoas tem se libertado de culpas que carregavam ao longo da vida e que muitas vezes as impedia de viverem com dignidade. Outro jeito de construir o Projeto de Jesus é a consciência ecológica através da Laudato Si’ que estamos implementando na Paróquia Santana. Também é importante compreender o Reino de Deus como novidade.
Encerrada a exposição dialogada de Michelle e Robson, Pe. Hermínio inicia as considerações finais do evento. Levantou questionamentos profundos sobre os desafios atuais da pastoral e da ação social da Igreja. Perguntando-se como ajudar os jovens a resgatar a memória dos profetas do passado, reconhecendo neles a inspiração e a coragem necessárias para enfrentar as injustiças do presente. Indagou também como fortalecer a consciência de classe dos trabalhadores e trabalhadoras, tanto do campo quanto da cidade, diante de uma realidade cada vez mais marcada pela desigualdade. Em tom provocativo, refletiu ainda sobre como apoiar os pobres que, influenciados por valores do consumo, acreditam pertencer à classe média apenas por possuírem um carro ou um pequeno pedaço de terra.
Em seguida, Alder Júlio retomou a palavra e reafirmou a importância de aproximar-se da juventude, ajudá-la a ser mais protagonista das ações comunitárias e envolvê-la ativamente nos processos de transformação social. Defendeu que é preciso investir em formação contínua, capaz de ampliar a visão de mundo e fortalecer o compromisso ético com os empobrecidos e empobrecidas. Alder destacou que o bem e a solidariedade se concretizam nas vivências junto aos pobres em luta, e alertou para a necessidade de reconhecer as relações de opressão e exploração que estruturam a sociedade. Segundo ele, é urgente trazer à tona o polo da riqueza - muitas vezes invisibilizado - como elemento de separação, de ódio e de destruição entre os seres humanos. Por fim, enfatizou ainda que a reflexão sobre a pobreza deve estar acompanhada de dados concretos sobre a concentração de renda, a produção de riquezas e a posse da terra, para demonstrar que a culpa não está em ser pobre, mas sim em quem cria e mantém as condições que transformam pessoas em pobres.
Numa mística final, Michele convidou a todos a reafirmar seu compromisso com os empobrecidos e empobrecidas de hoje, unindo em círculo as mãos estendidas com os anéis de tucum.
Joao Pessoa 06 de outubro de 2025
Com as contribuições de João Batista Barbosa,
Glória Carneiro, Aparecida Paes e Alder Calado
(Grupos Kairós, Comblin e CEBI)