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MEMÓRIA DO 13º INTERECLESIAL DAS CEBs

MEMÓRIA DO 13º INTERECLESIAL DAS CEBs

Romeiras do Reino no campo e na cidade

 

Pe. Vileci Basílio Vidal*

 

  1. Introdução

Somos gratos a todos que acreditaram e se deixaram envolver neste marco da história que foi o 13º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base, as CEBs do Brasil, acontecido no coração alegre e forte do Nordeste, no solo sagrado dos devotos de São Francisco e dos romeiros e romeiras do meu “Padim” Padre Cícero Romão Batista, por ocasião do centenário da Diocese de Crato, nas vésperas dos 50 anos do Concílio Vaticano II e dos 40 anos de caminhada dos Intereclesiais.

 

Faz dois anos que nos dias 07 a 11 de janeiro de 2014, as cidades de Crato, Barbalha, Missão Velha, Caririaçu e Juazeiro do Norte abriram as portas e o coração de cada família acolheu as Comunidades Eclesiais de Base vindas de todos os cantos e recantos do Brasil, como também representantes das CEBs da América Latina e do Caribe (Argentina, Paraguai, Colômbia, Haiti, Costa Rica, República Dominicana, Nicarágua, El Salvador, Honduras, Guatemala e México), da Europa (Espanha, Itália, Alemanha, Áustria, Austrália, Inglaterra), da Ásia (Filipinas) e da África (Cabo Verde) para a partilha de suas experiências exitosas e reflexão das problemáticas contemporâneas que desafiam a evangelização da Igreja comprometida com os pobres nestes novos tempos. E a motivação norteadora para o 13º Intereclesial das CEBs teve como fundamento o tema: justiça e profecia a serviço da vida; e o lema: CEBs, romeiras do reino no campo e na cidade.

Este grande evento eclesial reuniu, 2.248 mulheres, 1.788 homens, entre estes, 146 religiosos/as, 232 sacerdotes, 72 bispos, 68 assessores e membros da ampliada, 36 participantes de outros países, 20 pessoas evangélicas, 75 representantes dos povos indígenas e vários representantes de comunidades afrodescendentes. Foram 4.036 inscritos provindos das Comunidades de Base das Grandes Regiões do Brasil: nortão, nordestão, oestão, sulão e lestão, e outros países. A soma com os voluntários que participaram das equipes de serviços no espaço do encontro totalizou um número de 5.046 participantes. Mas destacamos ainda os membros das equipes de acolhida, alimentação, transporte e hospedagem que se engajaram nas paróquias. Estas fizeram a diferença, pois trabalharam nos bastidores sem a necessidade da visibilidade. Somos muito gratos por tudo isso que aconteceu há dois anos num gesto muito singelo e de gratuidade. Fizemos a experiência da Igreja Comunidade de comunidades.

  1. Resgate de valores individuais e coletivos

As CEBs são um jeito novo de ser Igreja que surge pela força do Espírito Santo. É a própria Igreja em sua maneira mais simples e com muito mais vida. Essa vida das CEBs se torna real na medida em que é Comunidade: grupo de família ou pessoas que se conhecem bem; partilham entre si e se ajudam em tudo; vivem em comum seus problemas, suas alegrias e esperanças. Eclesial: porque é um grupo de cristãos que são Igreja viva, seguidores de Jesus engajados na comunidade e que procuram viver a fé aprofundada na prática das primeiras comunidades cristãs. De Base: porque é vivida principalmente por aqueles que formam a base humana e cristã, lutando pela justiça social – grupo de vizinhos, povoados seja no campo ou na cidade. Neste grupo participam homens e mulheres: crianças, jovens, adultos e idosos, enfim, todos aqueles/as que se comprometem com a mudança da sociedade baseada na justiça e na fraternidade à luz da leitura orante da Palavra de Deus.

Este é um novo jeito de ser Igreja porque destoa de uma eclesiologia meramente sacramentalista para uma prática eclesial mais libertadora, numa dimensão de comunhão e participação. Os bispos do Brasil, no documento 92 da CNBB, afirmam: “Podemos fazer nossas as palavras dos bispos em Puebla: ‘As comunidades de base que, em 1968, eram apenas uma experiência iniciante, amadureceram e multiplicaram-se. Em comunhão com os seus bispos, converteram-se em centros de evangelização e em motores de libertação e desenvolvimento’ (DP 96)”.

O Intereclesial é o encontro de celebração e avaliação da caminhada das Comunidades Eclesiais de Base. Reúnem representantes das dioceses do Brasil, outros países e de outras Igrejas. Além de partilhar a vida, as experiências e as reflexões das CEBs, é memória viva da caminhada da Igreja, revela com mais clareza a situação de sofrimento e resistência de nossos povos e expressa a biodiversidade de nosso planeta TERRA.

  1. Memória do 13º Intereclesial

A noite do dia 07 de janeiro revestiu-se toda com uma atmosfera de muita festa, alegria, calor humano, músicas, poesias, repentes, vibração, esperança e fé para a celebração de abertura. O pátio da Igreja dos Franciscanos serviu de palco para receber toda esta grande comunidade reunida entre nós. A acolhida contou com a mensagem da carta do Papa Francisco que causou muita alegria, emoção e esperança entre todos; pois, pela primeira vez, um Papa fez referência ao encontro das CEBs. Dom Fernando realçou a hospitalidade do povo como manifestação da ternura de Deus e o espírito das bem-aventuranças e da fé itinerante de um povo simples e pobre. Lembrou as palavras do Papa Francisco sobre o importantíssimo papel das comunidades na missão Evangelizadora da Igreja.

O 08 de janeiro foi o dia das plenárias de estudos: 18 regionais da CNBB partilharam suas experiências. Nas falas, algumas palavras-chaves foram realçadas: PERSEVERANÇA, ESPERANÇA, FORTALEZA, COMPROMISSO MISSIONÁRIO, além de mencionar o reforço da luta pela paz e justiça a serviço da vida. O momento foi marcado pela frase: “o amor de todo mundo para mudar o mundo”.

Outro momento muito importante para todos nós foi o dia da missão nas paróquias, na manhã do dia 09 de janeiro. Sentimo-nos avaliados como comunidades de oração, de vivência da fé. Mas, o grande marco deste dia foi a celebração penitencial na Colina do Horto do Pe. Cícero. Esta espacialidade sagrada deu lugar a uma forte celebração onde se recordou os mártires e profetas da caminhada do povo de Deus, com forte ênfase na espiritualidade da Cruz. Ao cair da tarde, acompanhando a Cruz em silêncio, ao som da flauta, contemplando o rosto dos mártires pelo caminho, chegou-se até a Igreja Bom Jesus do Horto para um momento de reconciliação. Ao descer do Horto todos foram conduzidos às suas comunidades e paróquias de apoio para uma belíssima noite de confraternização e expressão cultural.

No dia 10, os povos indígenas com seus símbolos, suas lutas, seus sonhos e suas esperanças e na sua língua rezaram, cantaram e dançaram. Marcou-nos o testemunho de um indígena: “esta caminhada jamais terá fim, porque nós estamos deixando nossos rastos na terra de nosso Pai e nossa Mãe Terra. Os nossos caminhos e nossos rastos jamais vão apagar, por mais que nós sejamos perseguidos”. Este foi, também, o dia da grande plenária que destacou as seguintes temáticas: Espiritualidade romeira: religiosidade popular e mística; a espiritualidade do seguimento de Jesus; Justiça e profecia da mulher a serviço da vida; CEBs romeiras do Reino no campo e na cidade. E, terminamos o dia com a noite cultural: o encontro dos artistas da caminhada no Santuário dos Franciscanos.

Na manhã do dia 11, os regionais se reuniram nas paróquias para dar encaminhamento aos compromissos e elegeram pistas de ações para os quatro anos que antecedem o 14ª Intereclesial. E, ao retornarem para o local do encontro no Poliesportivo, no recinto da assembleia, houve um Momento Orante inter-religioso muito forte, a partir da temática: “justiça e paz se abraçarão”. Encerramos a plenária fazendo o encaminhamento para os próximos anos, tendo como compromisso do Regional Nordeste I: Formação; Inserção nas lutas sociais; Articulação e organização. Após este momento foi divulgado que o 14º Intereclesial acontecerá em janeiro de 2018 em Londrina no Paraná. Concluiu-se o momento dos trabalhos do encontro com a seguinte reflexão:

  1. O nosso jeito de ser Igreja é o nosso jeito de viver a fé: um novo modo de celebrar, transmitir e gerar ministérios não ordenados.

  2. Ser uma Igreja Samaritana que pratica a justiça; tem convicção e abertura para a verdade; e que acolhe todos os gritos e sofrimentos dos pobres.

 

À tarde as CEBs romeiras se colocaram em marcha e foram acolhidas na praça da capela do Socorro, onde está sepultado o Pe. Cícero. De lá, esta porção do povo de Deus, partiu em caminhada jubilar em honra ao Centenário da Diocese de Crato e foi recebida com mais outra multidão no Santuário Nossa Senhora das Dores, onde se coroou este significativo evento eclesial realizado neste solo sagrado, com a Celebração Eucarística.

O Intereclesial é uma grande celebração do povo de Deus, um espaço para confrontar a nossa prática com a prática de Jesus, onde se vive a comunhão eclesial e a partilha, o ecumenismo e o diálogo com outras religiões e outras culturas. É o encontro para fortalecer as Comunidades Eclesiais de Base.

 

“Está se cumprindo a profecia do Pe. Cícero:

Um dia todas as nações virão ao Juazeiro.”

(Voz de uma Romeira)

 

 

Juazeiro do Norte, 08 de janeiro de 2016.

 

 

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