Francisco de Aquino Júnior1
A festa dos 80 anos de Francisco Taborda é ocasião propícia e privilegiada de ação de graças a Deus por sua vida, por sua fé e por seu ministério teológico. E podemos fazer essa ação de graças cantando com Francisco de Assis: “Altíssimo, onipotente, bom Senhor, teus são o louvor, a glória e toda benção”2; suplicando com Inácio de Loyola “em tudo amar e servir” (EE, 233) e tudo fazer para a “maior glória de Deus” (EE, 189)3; e fazendo memória profética e perigosa com Oscar Romero de que “a glória de Deus é o pobre que vive”4.
Essa louvação a Deus tomada do Cântico das Criaturas de Francisco de Assis, esse chamado inaciano a querer e buscar sempre e em tudo fazer a vontade de Deus e essa memória desconcertante, provocadora e comprometedora da glória crucificada feita por Oscar Romero são bem familiares a Taborda. De Francisco recebeu um nome que é um verdadeiro projeto de vida: “evangelho sem glosa”. De Inácio se fez companheiro e herdou todo um dinamismo de vida. E com Romero e todo processo de renovação eclesial que se deu na América Latina a partir do Concílio Vaticano II e sua recepção em Medellín aprendeu a perscrutar os sinais e os apelos de Deus em um continente marcado por profundas injustiças e desigualdades, mas também por muita resistência, criatividade e lutas populares.
Mas além de bem familiares a Taborda, essa louvação, esse chamado e essa memória dão o sentido e o tom de uma laudatio que se pretenda autenticamente cristã e que faça jus à vocação e ao ministério teológico que ele tem assumido com tanta seriedade, profundidade e criatividade. Por isso, nossa louvação aqui não se dirige direta e propriamente a Taborda, mas a Deus, a quem o ser humano deve “louvar, reverenciar e servir”. Esse é o “fim para o qual somos criados” (EE 23). Não devemos “querer nem procurar outra coisa que não seja, em tudo e por tudo, o maior louvor e glória de Deus nosso Senhor” (EE 189). Sem esquecer jamais, como insistiram Paulo, João, Romero e tantos outros, que a glória de Deus é inseparável da cruz de Jesus Cristo e da cruz dos povos crucificados com quem Ele se identificou. Que não nos gloriemos senão na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo (Cf. Gl 6, 11ss) e em sua carne crucificada nos calvários de nosso tempo (Cf. Mt 25, 31-46)! Ajudar a comunidade eclesial a viver/testemunhar essa glória crucificada – “escândalo e loucura” (1 Cor 1, 23) – é a missão fundamental e permanente do teólogo. Essa é sua única glória!
A laudatio é uma prática muito antiga que consiste num discurso laudatório, elogio ou panegírico em honra de uma pessoa ou grupo de pessoas ou instituição. No contexto acadêmico, trata-se de um ritual em que se reconhece, destaca-se e louva-se alguém por sua atividade acadêmica e por seu aporte na produção, inovação, aprofundamento e ampliação do conhecimento. E o laudator ou aquele que faz a laudatio deve justificar ou dar as razões desse ato honroso.
Certamente, não faltariam razões para elogiar academicamente a Toborda: seu longo magistério e sua vasta publicação; seu conhecimento e domínio de línguas clássicas e modernas como se pode comprovar em suas aulas, em suas publicações e em suas críticas implacáveis a traduções imprecisas e malfeitas; sua erudição em conhecimentos gerais e particularmente em teologia – patrística, escolástica, moderna e libertação; seu apreço e familiaridade com os clássicos da literatura, da filosofia e, sobretudo, da teologia; a profundidade, o rigor e a precisão de suas formulações que o torna sempre cauteloso com os modismos sem, entretanto, fechar-se à novidade; a seriedade e honestidade intelectuais que em seu estilo gaúcho de Bagé chega a produzir temor em alunos e colegas e em seu escrúpulo excessivo chega a protelar por mais de duas décadas a publicação de um livro; o reconhecimento, o respeito e a admiração que tem por parte de alunos e colegas teólogos/as etc. Todos os que o conhecemos pessoalmente e/ou por sua obra podemos constatar isso sem dificuldade. E muitos até poderíamos confirmar isso recordando fatos um tanto anedóticos e mesmo dolorosos.
A propósito do estilo gaúcho de Bagé a que me referi, lembro ainda da correção que fez do capítulo III de minha dissertação de mestrado que tinha como tema “A discussão sobre o plano da Suma Teológica: Uma crítica a partir da Teologia da Libertação”. Partindo da parcialidade de Deus pelos pobres como um traço fundamental da revelação e da fé cristãs e da dificuldade da forma grega de pensar (voltada para a essência permanente e imutável) de lidar com a historicidade e a parcialidade, dizia que essa forma de pensar, assumida por Tomás, era pouco cristã por não dar conta adequadamente de um traço fundamental da revelação e da fé cristãs que é a parcialidade pelos pobres. Sua reação foi, como se diz no Ceará, curta e grossa: “Você não pode simplesmente dizer que Tomás é ótimo, só que sua teologia não é cristã. Você pode até pensar isso, mas deve dizer de uma forma mais respeitosa”. Fiquei meio atordoado pensando que ele não aceitava a critica que tinha feito e que teria que começar tudo de novo. Depois veio uma segunda reação: “Não rejeito a crítica que você faz, rejeito a forma de criticar como quem olha Tomás de cima para baixo: ‘Coitado! Que teologia! Nem cristã é!’. Um pouco de mineiridade na expressão não faria mal e você já deve ter aprendido depois de tantos anos”. Enfim, depois de várias reformulações, o veredito final um tanto jocoso: “Logo que acabei a leitura, me veio à mente compará-lo com um galo garnizé. O galo garnizé é muito galo e é divertido ver como ele enfrenta com peito inchado um galo grande. Pois foi assim que você se me afigurou: um garnizé teológico inchando o peito pro galo velho Tomás... É muito atrevimento. Mas promete. E tudo está dentro da lógica”. Por mais desconcertante que tenha sido o estilo gaúcho de Bagé de correção (curto e grosso, sem meias palavras ou mineiridade), sou eternamente grato pela exigência e pelo aprendizado de rigor e precisão lógico-teórico-conceitual no fazer teológico. Mais tarde, no doutorado, encontrei em Xavier Zubiri e Ignacio Ellacuria uma mediação filosófica capaz de apreender e formular adequadamente a historicidade e parcialidade da revelação e da fé cristãs5.
Mas não interessa, aqui, destacar as qualidades acadêmicas de Taborda: sua erudição, sua seriedade e seu rigor teórico-conceituais, sua fama de grande intelectual. Nem é preciso fazer isso. Nem condiz com seu estilo simples, discreto e até tímido. E, sobretudo, não é nisso que reside a glória de um teólogo. E Taborda bem sabe disso. Aprendeu como poucos com Tomás a cultivar a virtude da “estudiosidade” (Cf. STh II-II, q. 166) sem ceder à tentação do vício da “curiosidade” (Cf. STh II-II, q. 167). E, certamente, não hesitaria em afirmar com Tomás diante de sua obra, também monumental: “Tudo o que escrevi me parece palha perto do que vivi”6. A vocação do teólogo não é ser um grande erudito nem sua virtude consiste em eruditismo, por mais que a erudição seja útil e importante no fazer teológico. Sua missão, como recordava na conferência que pronunciou no ato acadêmico em que recebeu o título de “professor emérito” da FAJE, retomando o discurso inaugural de Tomás de Aquino ao tornar-se magister in Sacra Pagina, é “comunicar a sabedoria”7. E esta sabedoria, Taborda bem o sabe, não é outra senão a “sabedoria da cruz”8 – a glória de Deus na cruz de Jesus Cristo e nos povos crucificados.
Viver dessa glória e comunicar/testemunhar essa glória na Igreja e na sociedade é a única glória de um teólogo. E esse é o mérito maior da teologia de Taborda. Ela se insere no esforço da Igreja latino-americana de viver, celebrar e pensar a fé num contexto de pobreza, opressão e marginalização, comprometida com os pobres e marginalizados em suas resistências e em suas lutas por libertação. Participa dessa ousadia espiritual profética de nossa Igreja de viver e testemunhar a glória de Deus nas cruzes e nos calvários de nosso continente.
Neste sentido, queria destacar o que considero a contribuição teológica mais importante e mais original de Taborda no contexto mais amplo da teologia latino-americana e mesmo da teologia católico-romana pós-conciliar: Uma teologia libertadora dos sacramentos. Taborda desenvolveu como nenhum outro teólogo na América Latina a teologia dos sacramentos. E fez isso no contexto e na perspectiva de uma teologia libertadora: uma teologia da fé; de uma fé ativada pela caridade (práxis) que se vive no compromisso com os pobres e marginalizados e suas lutas por libertação (perspectiva dos pobres e marginalizados; práxis de libertação).
Gustavo Gutiérrez sempre insistiu que “a teologia da libertação nos propõe, talvez, não tanto um novo tema para reflexão quanto uma nova maneira de fazer teologia”9: “teologia como reflexão crítica da práxis histórica à luz da Palavra”10. Trata-se aqui, diz ele, de “uma teologia que não se limita a pensar o mundo, mas procura situar-se como um momento do processo por meio do qual o mundo é transformado, abrindo-se [...] ao dom do Reino de Deus”11. Posteriormente, indicou, quase em forma de tese, o que considera as “duas intuições centrais” dessa nova maneira de fazer teologia; “intuições que foram as primeiras cronologicamente e que continuam constituindo sua coluna vertebral”: “método teológico” (“ato primeiro – ato segundo”; teoria-práxis) e “perspectiva do pobre” (libertação dos oprimidos)12.
Essas duas “intuições” (práxis – pobres) são inseparáveis e constituem o que poderíamos chamar de “método fundamental” (Ignacio Ellacuría) 13 ou de “horizonte intelectual” (Antônio González)14 da teologia da libertação, para além da diversidade e complementariedade de métodos concretos e específicos que se pode e se deve utilizar nas investigações e elaborações teológicas. E esse é o “método fundamental” ou o “horizonte intelectual” da teologia sacramental de Taborda: Tanto em seus escritos mais antigos estruturados em torno das categorias práxis-festa; quanto em seus escritos mais recentes desenvolvidos a partir do rito com que a Igreja celebra os sacramentos. O que ele chama com Giraudo de método escolástico (II milênio) e método patrístico (I milênio) são, no seu caso específico, modos distintos, mais ou menos felizes e/ou adequados, de desenvolver uma teologia sacramental libertadora: sacramentos da fé (primado da práxis); de uma fé comprometida com os pobres e marginalizados (perspectiva dos pobres e sua libertação).
Um aspecto fundamental e determinante de toda teologia sacramental de Taborda é a insistência no vínculo constitutivo e essencial entre sacramentos e fé (sacramentos da fé) e na fé como seguimento de Jesus Cristo (práxis do seguimento). Essa intuição, formulada e desenvolvida em sua obra clássica Sacramentos, práxis e festa15, perpassa, com matizes e termos diversos, toda sua obra: “o problema fundamental da teologia sacramental é o da relação entre sacramentos e seguimento de Jesus, entre celebração e prática do amor”16; “os sacramentos só podem ser entendidos no contexto de uma vida no seguimento de Jesus”17; “a relação íntima e irrenunciável entre realização histórica do seguimento de Jesus e rito sacramental” é “o ponto crucial e básico de toda a teologia dos sacramentos”18. Essa “relação sacramento-vida que tem que existir em todo sacramento, no sacramento do matrimônio assume uma forma especial, única, uma unidade que é identidade. E nesse sentido o sacramento do matrimônio pode lançar luz sobre os outros sacramentos e ajudar sua compreensão”19
Essa nova perspectiva da teologia dos sacramentos deve ser situada e compreendida no contexto mais amplo da história da teologia que, segundo Taborda, “poderia ser esquematizada em três momentos, conforme as categorias de apreensão do real teológico provenham do mundo das coisas, do mundo do sujeito ou do mundo do social”. No caso concreto dos sacramentos, eles poderiam ser abordados em categorias/perspectivas “coisistas” (objetos sagrados), subjetivas (personalistas, intersubjetivas, antropocêntrias) ou sociais (práxis, seguimento, engajamento)20. A teologia sacramental de Taborda, respondendo a um “imperativo epocal na situação de opressão em que vive a maioria da população da América Latina” e em seu esforço de maior articulação entre sacramentos e agir cristão21, está desenvolvida na perspectiva ou no horizonte da práxis22. E nesse sentido mais fundamental não há nenhuma diferença entre a teologia sacramental estruturada em torno das categorias práxis-festa ou estruturada a partir do rito com que a Igreja celebra os sacramentos. Tanto nos textos mais antigos (práxis-festa), quanto nos textos mais recentes (rito do sacramento), trata os sacramentos como “sacramentos da fé” e trata a fé como “vida cristã” ou “seguimento de Jesus Cristo”.
Um segundo aspecto fundamental e determinante de toda teologia sacramental de Taborda é a insistência na centralidade dos pobres e marginalizados na fé cristã e, consequentemente, na teologia cristã – também na teologia sacramental. Isso aparece claramente em Sacramentos, práxis e festa: “A reflexão sobre os sacramentos partirá, portanto, de que o essencial no cristianismo é a vida engajada no seguimento de Jesus na atuação em prol dos irmãos, especialmente dos pobres, em vista da construção do Reino”23. E isso perpassa toda sua obra. O que se convencionou chamar a partir da América Latina “opção preferencial pelos pobres” é uma dimensão constitutiva da fé, de seus sacramentos e de sua teologia: A “fé no evangelho do Reino” implica “amor preferencial pelos pobres”24; há um vínculo essencial entre “a eucaristia, a Igreja e os pobres”25 – a eucaristia implica “compromisso com a justiça”26; “reconhecer a presença de Cristo no pobre é condição de possibilidade e de verificação da presença de Cristo na Igreja. Quer dizer: a Igreja mostra-se Igreja, quando reconhece a Jesus no pobre. Do contrário se esvazia da presença de Jesus (porque já não crê)”27; o ministério diaconal tem a função de “animar, reavivar, organizar a comunidade em vista do serviço aos pobres”, “expressa o partidarismo da Igreja em favor dos pobres”, pelo serviço da Palavra ajuda a tomar a sério o Evangelho na prática da solidariedade com os pobres e pelo serviço litúrgico recorda à comunidade que, como diz Van Waelderen, “não há eucaristia sem lava-pés”28.
Esse é um ponto que sempre me impactou muito na teologia de Taborda. Os pobres não aparecem como um anexo ou um apêndice de sua teologia sacramental. Não se trata de escrever um livro/artigo sobre algum sacramento e no final acrescentar um capítulo/tópico sobre os pobres ou sobre a teologia da libertação como muitas vezes se fez e se faz na América Latina. A parcialidade pelos pobres e marginalizados ou o compromisso com os pobres ou a opção pelos pobres aparece em sua teologia como um aspecto ou uma dimensão fundamental da fé e, consequentemente, dos sacramentos (celebração da fé) e da teologia (intelectos fidei). Por isso, os pobres e marginalizados aparecem com tanta “naturalidade” em sua teologia sacramental: a iniciação na fé implica compromisso com os pobres29; “não há eucaristia sem lava-pés”30; a unidade da Igreja se faz “a partir dos menos favorecidos, dos pobres, dos oprimidos”31; “despertar os cristãos todos para a centralidade do pobre é fundamental para que a Igreja se una em torno ao Evangelho e não por critérios sociológicos”32; a unção dos enfermos faz parte do cuidado da Igreja com os doentes33; entre os meios cotidianos de perdão ocupa lugar proeminente a esmola: “quem se abre à necessidade do outro em busca da justiça e da partilha dos bens encontra a Deus e, portanto, sua misericórdia e seu perdão”34; “amor conjugal e compromisso social” são inseparáveis: “o amor conjugal é uma expressão singular do amor ao próximo” que encontra no “amor aos pobres, marginalizados, desprezados” sua “expressão máxima”35. E poderia citar muitos outros textos que demonstram a centralidade dos pobres e marginalizados na teologia de Taborda.
Importa, aqui, insistir no que chamei “método fundamental” ou “horizonte intelectual” da teologia sacramental de Taborda. Ele trata os sacramentos em sua relação constitutiva e essencial com a fé como vida cristã ou seguimento de Jesus Cristo (primado da práxis) que tem no serviço aos pobres e marginalizados seu critério e sua medida permanentes (perspectiva do pobre). Antônio González intuiu e indicou bem essa novidade da teologia de Taborda. Num artigo sobre “o significado filosófico da teologia da libertação”, destacando a novidade da mudança de horizonte teórico realizada nessa teologia no desenvolvimento dos grandes temas da teologia, afirma de modo certeiro: “a doutrina dos sacramentos não é abordada a partir da transmissão de uma res natural nem a partir de sua relevância para o sujeito e suas certezas, mas – no caso de Francisco Taborda – a partir da práxis festiva”36.
E isso é muito mais determinante de sua teologia que o método concreto utilizado na sistematização da teologia dos sacramentos: fenomenologia da festa/celebração ou análise do rito do sacramento. Noutras palavras, o mais decisivo na teologia de Taborda não é propriamente o método utilizado nos escritos mais antigos (fato valorizado, expressão significativa, intercomunhão solitária) ou nos escritos mais recentes (rito do sacramento), por mais que isso não seja indiferente ou irrelevante numa teologia sacramental. A novidade maior de sua teologia – uma verdadeira revolução na teologia dos sacramentos – é o horizonte intelectual ou a perspectiva fundamental com que é desenvolvida em ambos os métodos e que formulamos aqui com Gutiérrez em termos de “primado da práxis” e “perspectiva do pobre”. Não por acaso, na introdução do livro O memorial da páscoa do Senhor, onde assume o que chama com Giraudo de método patrístico de abordagem dos sacramentos, a propósito do último capítulo “a eucaristia, a Igreja e os pobres” que segue a metodologia de Sacramentos, práxis e festa que ele chama, de modo impreciso, de método escolástico, Taborda se mostra surpreso e impressionado “por ter chegado, com uma metodologia totalmente distinta da usada nos demais textos aqui reunidos, ao mesmo ponto essencial na compreensão da eucaristia: sua finalidade não é tornar Cristo presente, mas construir a Igreja, corpo de Cristo”37.
Dessa forma, Taborda ajudou nossa Igreja a redescobrir e assumir de modo consequente o caráter práxico-parcial da fé e de sua expressão litúrgico-teológica e, assim, inserir-se cada vez mais, na força e no poder do Espírito, no mistério ou na glória de Deus que é inseparável da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo e dos povos crucificados, como tanto tem insistido esse autêntico companheiro de Jesus que é o atual bispo de Roma – o outro Francisco... De tal modo que o “louvar, reverenciar e servir a Deus” (EE, 23) ou o querer e procurar “em tudo e por tudo o maior louvor e glória de Deus nosso Senhor” (EE, 189) tem, como afirma o próprio Jesus Cristo na parábola do juízo final, nos pobres, necessitados e sofredores, seu critério e sua medida escatológicos (Cf. Mt 25, 31-46). Ou como disse, de modo não menos escandaloso que Paulo, São Romero da América – pastor e mártir nosso: “A glória que Deus é o pobre que vive”38. Que sejamos testemunhas dessa glória!
Obrigado Taborda, irmão-mestre-amigo, por sua vida, por sua fé, por seu magistério. Obrigado por nos fazer ver-ouvir-tocar-cheirar-saborear e testemunhar-compartilhar a sabedoria/glória crucificada de Deus junto aos crucificados de nosso tempo. Bendito seja Deus por sua vida e por seu magistério. Amém!
Limoeiro do Norte, 24 de março de 2018
Festa do martírio de São Romero de América – pastor e mártir nosso
1 Doutor em teologia pela Westfälische Wilhems-Universtität Münster – Alemanha; professor de teologia na Faculdade Católica de Fortaleza (FCF) e na Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP); presbítero da Diocese de Limoeiro do Norte - CE.
2 SÃO FRANCISCO DE ASSIS. Escritos e biografias de São Francisco de Assis, crônicas e outros testemunhos do primeiro século franciscano. Petrópolis: Vozes, 1996, p. 70.
3 SANTO INÁCIO DE LOYOLA. Exercícios Espirituais: Apresentação, tradução e notas do Centro de Espiritualidade Inaciana de Itaici. São Paulo: Loyola, 2000.
4 MONSEÑOR ROMERO. “La dimensión política de la fé desde la opción por los pobres”. In: La voz de los sin voz: La palabra viva de Monseñor Romero. Introducciones, comentarios y selección de textos de . Sobrino, I. Martín-Baró y R. Cardenal. San Salvador: UCA, 2007, p. 181-193, aqui p. 193.
5 Cf. AQUINO JÚNIOR, F. A teologia como intelecção do reinado de Deus: O método da teologia da libertação segundo Ignacio Ellacuría. São Paulo: Loyola, 2010.
6 Cf. TORREL, J-P. Iniciação a Santo Tomás de Aquino: Sua pessoa e obra. São Paulo: Loyola, 1999, p. 339.
7 Cf. TABORDA, F. “A missão do teólogo: Comunicar a Sabedoria. Uma lição de Tomás de Aquino”. REB 276 (2009) p. 885-913.
8 Cf. TABORDA, F. Nas fontes da vida cristã: Uma teologia do batismo-crisma. São Paulo: Loyola, 2001, p. 52-56.
9 GUTIÉRREZ, G. Teologia da Libertação: Perspectivas. São Paulo: Loyola, p. 73.
10 Ibidem, p. 71.
11 Ibidem, p. 74.
12 Cf. GUTIÉRREZ, G. A força histórica dos pobres. Petrópolis: Vozes, 1981, p. 293s.
13 Cf. ELLACURÍA, I. “Hacia una fundamentación del método teológico latino-americano”. In: Escritos Teológicos I. San Salvador: UCA, 2000, p. 187-218.
14 Cf. GONZÁLEZ, A. “El significado filosófico de la teología de la liberación”. In: COMBLIN, J. – GONZÁLEZ-FAUS, J.I. – SOBRINO, J. Cambio social y pensamiento cristiano en América Latina. Madrid: Trotta, 1993, p. 145-160.
15 Cf. TABORDA, F. Sacramentos, práxis e festa: Para uma teologia latino-americana dos sacramentos. Petrópolis: Vozes, 1994.
16 TABORDA, F. “Sacramentos, práxis e festa: Crítica e autocrítica”. Perspectiva Teológica 21 (1989) p. 85-99, aqui p. 89.
17 TABORDA, F. “Vida cristã e sacramentos: Para uma pastoral sacramental teologicamente atualizada”. Perspectiva Teológica 21 (1989) p. 227-236, aqui p. 227.
18 TABORDA, F. Nas fontes da vida cristã. Op. cit., p. 20.
19 TABORDA, F. Matrimônio – Aliança – Reino: Para uma teologia do matrimônio como sacramento. São Paulo: Loyola, 2001, p. 13.
20 TABORDA, F. “Sacramentos, práxis e festa: Crítica e autocrítica”. Op. cit., p. 86s.
21 Ibidem, p. 87.
22 Sobre o conceito de práxis em Taborda, cf. TABORDA, F. Cristianismo e ideologia: Ensaios teológicos. São Paulo: Loyola, 1984, p. 57-90; TABORDA, F. Sacramentos, práxis e festa: Para uma teologia latino-americana dos sacramentos. Op. cit., p. 25-39; PINTO, C. R. “Práxis libertadora: Uma compreensão de práxis no pensamento teológico de Francisco Taborda”. Pensar-Revista Eletrônica da FAJE 8 (2017) p. 125-132.
23 TABORDA, F. Sacramentos, práxis e festa: Para uma teologia latino-americana dos sacramentos. Op. cit., p. 16.
24 Cf. TABORDA, F. Nas fontes da vida cristã. Op. cit., p. 72s;
25 Cf. TABORDA, F. O memorial da Páscoa do Senhor: Ensaios litúrgico-teológicos sobre a eucaristia. São Paulo: Loyola, 2009, p. 249-284.
26 Cf. Ibidem, p. 282ss.
27 TABORDA, F. “Uma eucaristia viva para uma Igreja viva: Reflexões em torno a um discurso do Papa Francisco”. Atualidade Teológica 58 (2018) p. 91-119, aqui p. 99.
28 TABORDA, F. A Igreja e seus ministros: Uma teologia do ministério ordenado. São Paulo: Paulus, 2011, p. 200ss; Cf. TABORDA, F. “Uma eucaristia viva para uma Igreja viva: Reflexões em torno a um discurso do Papa Francisco”. Op. cit., p. 114.
29 Cf. TABORDA, F. Nas fontes da vida cristã. Op. cit., p. 72s.
30 Cf. TABORDA, F. A Igreja e seus ministros. Op. cit., p. 202; TABORDA, F. “Uma eucaristia viva para uma Igreja viva: Reflexões em torno a um discurso do Papa Francisco”. Op. cit., p. 114.
31 TABORDA, F. A Igreja e seus ministros. Op. cit., p. 204.
32 Ibidem, p. 204.
33 Cf. TABORDA, F. “Unção dos enfermos e misericórdia”. Disponível em: http://domtotal.com/noticia/1014476/2016/04/uncao-dos-enfermos-e-misericordia/
34 TABORDA, F. “Penitência cotidiana: Uma verdade a ser recordada”. REB 302 (2016), p. 402-427, aqui p. 411-415.
35 TABORDA, F. Matrimônio – Aliança – Reino. Op. cit. p. 23s.
36 GONZÁLEZ, A. “El significado filosófico de la teología de la liberación”. Op. cit., 159.
37 TABORDA, F. O memorial da Páscoa do Senhor. Op. cit., p. 10.
38 MONSEÑOR ROMERO. “La dimensión política de la fé desde la opción por los pobres”. Op. cit., 193.