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O JEITO NEGRO DE EXPERIMENTAR DEUS.

Gedeon José de Oliveira

Preocupação de fundo

 

A colonização do Brasil aconteceu pelas invasões dos europeus brancos com propósitos econômicos e pela igreja católica com os propósitos econômicos e religiosos. Prestando bem atenção os mesmos que invadiram o Brasil são os mesmos poderosos de hoje, isso reforça a hegemonia branca como a supremacia da igreja católica, em detrimento, de forma objetiva, da população afrodescendente, no que diz respeito à Religião dos Orixás, autoestima, emprego, etc. Neste sentido quero refletir quatro dimensões que poderão contribuir, mesmo que limitado, para um processo de consciência de si e de valorização do/a negro/a.

 

Porque essa questão

 

É passivo nos dias atuais que toda ação reflexiva da pessoa é marcada por sua história pessoal, portanto, limitada pelas condições históricas do sujeito que delimita sua real importância, sem, contudo negar-lhe sua importância real. Neste sentido este trabalho quer ser a indicação de um campo do pensar teológico afro-brasileiro, a partir da experiência do homem e da mulher afro, que em minha opinião carece de mais atenção. Visto que as alas do pensamento que avançam, são legitimas e tem prioridade até, mas não exclui esta outra dimensão que aqui se pretende fazer, antes a exige, convém ampliar o campo de reflexão teológica do ponto de vista do negro e da negra, a fim de englobar também esta outra dimensão.

  A teologia feita pelos negros e negras, com toda razão, geralmente parte da herança histórica marcada pelo racismo, pela dor, pela escravidão, ou a ela destina-se como resistência e apelo para que se elimine a inconcebível postura racista, presente ainda em enorme número de brancos. Este texto ilustra o que se pretende afirmar:

O pensamento teológico afro-americano toma referencia básica as experiências de Deus vividas pelas comunidades negras no continente. Trata-se da experiência da fé numa sociedade marcada pelo racismo e pela opressão sobre tantos e de maneira particular sobre os negros e negras.1

Não existe nada de ilegítimo nesse ponto de partida, como não existe nada de mais urgente, essa de fato é a teologia de base. O que eu quero refletir se trata do ponto de partida oposto, mas que não dispensa o que se acenou acima, antes o pressupõe. Tomar como ponto de partida a pessoa do negro, sua cultura, livre da pessoa do branco e da igreja católica Romana no sentido de influência dominante, frente a Deus que se revela em Jesus Cristo.

Isso significa dizer que se trata de ouvir o próprio negro e a negra dizer o que significa para ele e ela seguir Jesus Cristo em sua cultura e universo simbólico, o que pretende que é ser discípulo e discípula de Cristo. Isto significa resistir a leitura branca do que é seguir Jesus cristo como modelo único de leitura significa questionamentos de pontos que, porventura, não gozem de suficiente solidez no sistema teórico construído pelos brancos. Será que os brancos estão certos em tudo? Se for “verdade” essa realidade reforça a supremacia dos brancos.

 

DEUS DO JEITO DO NEGRO E DA NEGRA

 

 

Pretendo fazer alusão a algumas linhas gerais de reflexão para uma teologia afro-brasileira.

a)    o modo de celebrar: não apenas no sentido religioso, mas, de modo geral, no sentido de celebrar a vida, na pessoa do negro e da negra é diferente do modo dos brancos. O negro e a negra são mais alegres. A música e dança são componentes ônticos da sua pessoa. A importância que dão ao corpo e aos sentimentos os situam numa posição capaz de viver a fé e sobre elaborar suas reflexões, que pouco tem a ver com os sistemas brancos construídos a partir da racionalidade greco-romana de quem são tributários.

b)    Uma mentalidade menos legalista: nos moldes do legalismo ocidental preso a racionalidade da codificação. É assim que se apresenta o jeito negro e negra de organizar a vida. Sua visão do direito é mais consuetudinária do que racional codificadora. É mais baseada na vida do que na dedução. Sem dúvida esse modelo antropológico permitira que se faça uma leitura bem diferente do que significa seguir Jesus Cristo, que não coloca a lei acima da pessoa, mas a serviço dela. (cf.Mc. 7,1-13)

 

c)    Uma visão mais holística da criação: onde o homem e a mulher não se situam acima ou fora da natureza, mas, no seu meio, integrado. Para o negro e a negra a matéria não é, simplesmente, elemento de pura especulação, mas é lugar de vida. O corpo não é para ser castigado, mas integrado na natureza, aberto aos seus ciclos. E a experiência de Deus não se dá, primeiramente, a partir da dessemelhança, i. é, a partir daquilo que é diferente de Deus em relação a sua criação, mas sim a partir da semelhança, do que Deus tem de próximo, de semelhante. É a herança saudável dos antigos panteístas.

 

d)    Capacidade de colocar-se a serviço: de uma causa quando se sente convicto dela e de uma superioridade enorme em relação aos brancos. Basta olhar a outra face dessa qualidade antropológica, que chamamos de “resistência”. De fato essa é uma base antropológica para viver a radicalidade da fé que Jesus propõe como serviço da pessoa humana e construção da fraternidade.

 

  Portanto, a cultura afro-brasileira assenta-se sobre uma antropologia diferente da antropologia do branco em muitos elementos. O que conseqüentemente, proporciona um outro jeito de concretizar a fé em Jesus Cristo.

1 (Antonio Aparecido-organizador. Existe um pensar teológico negro?; São Paulo: paulinas, 1998. pág. 9-10).

 

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