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PADRE JOSÉ COMBLIN: SINAIS DE UMA IGREJA REMOTA PARA UMA IGREJA PRÓXIMA

 

Gedeon José de Oliveira

José Comblin é conhecido por seu caráter crítico, portanto, comprometido em relação à Igreja católica, principalmente. Seu escrito contém um modelo de igreja ainda a caminho. Assim, a Conferência Eclesial do Amazonas sinaliza para uma igreja próxima em relação ao modelo de uma igreja remota, tão criticada pelo pensador belga. Deste modo faremos uma analogia entre o modelo de igreja remota e a conferencia eclesial do Amazonas. O que seria uma igreja remota? Tomando como base o livro: Os desafios da cidade no século XXI, de 2002, da editora Paulus, Padre José Comblin, com um olhar clinico, consegue externar os principais problemas da Igreja e sua presença na cidade. Destaca-se em primeiro lugar o conceito referencial que vai permitir compreender, de forma metodológica, os problemas da cidade, a saber, o capitalismo. Trata-se de um olhar objetivo, sem perder de vista os problemas locais.

Para Comblin, o sistema capitalista precisa da cidade porque precisa de mão-de-deobra ao alcance das empresas (COMBLIN, p 06). O capitalismo quebra todas as formas de solidariedade porque vê nelas resistências ao seu desenvolvimento. Daí decorre a dissolução das famílias, da vida social dos bairros, das associações de todo tipo. Não obstante, a cidade é sempre noticiada através das mídias, como espaço de criminalidade, poluição, congestionamento, problemas de transporte, trafico de drogas, contrabando, estresse e todo tipo de infortúnio. Assim, Comblin descreve a cidade como lugar do lucro e de símbolos de propriedade privada, onde apenas alguns privilegiados vivem ao seu bem prazer.

O que faz a igreja no meio do drama da cidade? Questiona Comblin. Globalmente, a instituição eclesiástica ignora a cidade. A divisão administrativa de paróquias e dioceses corresponde ao modelo rural. A paróquia procura proteger-se contra o contágio da cidade e não pensa em ser uma referência orientadora. Permanecendo indiferente aos problemas da cidade a paróquia se torna um recinto sagrado de refugio. Certamente, pessoas com problemas graves provocados pelos fluxos e refluxos da cidade encontram na igreja um modo de se manterem alienadas. A renovação carismática é uma experiência frustrada do modo de viver na cidade. Pessoas buscam curas e milagres, enchem os templos em busca de um sentido para viver. Mas um sentido de viver desconectado dos problemas da cidade. Deste modo uma religião fetichista vai ganhando espaço e adesão de pessoas afetivamente afetadas pelos problemas sociais. O Catecismo, se torna uma lei que justifica o refugio dos fieis dentro da igreja. Deste modo, bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas que procuram ir ao encontro dos apelos das cidades, são marginalizados de modo a não serem reconhecidos pela casta sacerdotal. A vida paroquial, diz Comblin, não é feita para assumir os problemas de trabalho, de moradia, de convivência, de desorganização social da cidade. Menos ainda para assumir os problemas de classe ou problemas dos grandes setores culturais (ciência, indústria, comércio, arte e informação. A doutrina da igreja é continuação da doutrina medieval. O desafio, conclui Comblin, é assumir a realidade humana com toda a sua complexidade. Esses constituem alguns problemas apontados por Comblin a igreja e sua relação com a cidade.

Dito isso, ouso dizer que Comblin deve estar alegre com o sínodo eclesial do amazonas, pois suas Críticas tão perspicazes fazem do então Sínodo, uma igreja próxima. No site da UNISINOS (WWW.ihu.unisinos.br no dia 30 de junho do corrente ano, noticiou o Sinodo da seguinte forma: Nasce a Conferência Eclesial da Amazonia: “uma resposta oportuna aos gritos dos pobres e da irmã mãe Terra. O Sínodo é uma novidade, pois de caráter eclesial e não episcopal pode se tornar uma referencia global do modo de ser igreja. Como diz Comblin, se o novo Papa não mudar o clero, perderá tempo precioso e muitos fiéis desanimarão. (Comblin, p. 18). Segundo artigo da UNISINOS, o sinodo é uma novidade do espírito. Trata-se da sinodalidade, uma maneira de ser Igreja que está sendo decisivamente promovida pelo Papa Franscisco. Segundo Casto Ruiz (Professor da UNISINOS e secretário da UNESCO, “a boa nova sinodal com base na perspectiva eclesial, se realizou em uma nova figura jurídica-pastoral dentro da Igreja pelas quais os leigos e religiosas firmam parte parietalmente com os bispos”. Ainda outra novidade, é que não se trata de um país, mas de uma região (um bioma) que interliga diversos países. Trata-se de uma abordagem da fé, cujo conteúdo são as questões sócio-ambientais. O Sínodo se torna então, o laboratório de um modelo de ser Igreja no século XXI. Eis a concretização, mesmo que tímida, de uma igreja próxima da qual o Padre José comblin profetizou.

 

 

 

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