Alder Júlio Ferreira Calado
A(o)s irmã(o)s franciscanos me reporto
Compartindo questões que eu me faço
De Francisco sigo mesmo os seus passos?
Ou me atraco, “seguro”, em outro porto:
Franciscano eu me faço, absorto
Em primeiro lugar, Francisco diz:
E é bom escutar pra ser feliz
“Evangelho não é religião”
Se eu prestar, apenas cultos, é em vão
Eis o que sempre fez o Irmão de Assis
Pra seguir o Caminho, quê faço então?
Evangelho é seguir o Nazareno
É amar e servir os mais pequenos
Só rezar sem agir, será em vão
É amar o planeta, com os irmãos
É lutar pelos pobres e seus direitos
É tomar o caminho mais estreito
Diferente dos ricos e aliados
É seguir de Jesus o Seu legado
Superar de nós mesmos os defeitos
Quem entende Francisco, está ciente
Do caminho do Mestre, em nossa vida
Da postura fiel, enternecida
Pois a paz que ele vive, é exigente
É lutar por justiça entre as gentes
Não se trata de agir só por mistério
Tendo a paz, um espírito deletério
Querer vida para todos os seres vivos
Sem criar bicho algum como cativo
É levar, cada dia, isto a sério.
Com frequência, do Irmão se faz legenda
Folclorizam sua vida, volta e meia
Abusando de “milagres”, em cadeia
Desprezando um Francisco que nos renda
Testemunho fiel de sua agenda
Que diante do pai, mais de uma vez
Lhe foi franco, altivo - assim o fez
Quando o pai reclamou todos os bens
Restitui-lhe Francisco: “Eis o que tens!”
Desconcerta destarte, o pai burguês.
O folclore não raro encobre fatos
Até mesmo a propósito de Ecologia
Com estranhas narrativas, mas vazias
Sem ater-se ao caráter mais exato
Do seu gesto profundo, do seu acato
Ao conjunto dos seres do planeta
Que ele trata de irmãos, e sem seleta
Sendo gente, animais, ou vegetais
Lua, sol, água, rochas, outros mais
Os viventes merecem cumprir sua meta
Com Francisco, episódio impactante:
“Os embates” na ordem, provocados
Por figuras mais próximas do Papado
Se opondo a que a proposta fosse adiante
Que os confrades fossem todos itinerantes
Objetando a falta de estrutura
Algo assim pelo tempo não perdura
“Ó Francisco”, desista do seu plano
Seu projeto parece um pouco insano
Obedeça, não tenha cabeça dura
Você tem que pensar um bom bocado
É preciso estrutura assaz constante
Muitas casas de apoio estando adiante
Santa Sé tem amigos, aliados
Que virão a pedido do Papado,
mas Francisco percebe a armadilha
Deus provê todo aquele que andarilha
Meios simples - o caminho que aponta
O Evangelho provê todas as contas
E a Dama Pobreza é nossa trilha
Diante disto, Francisco argumenta:
É um risco apostar nas estruturas
quem não segue o Evangelho pouco atura
Escolher porta estreita é via isenta
É Jesus andarilha quem comenta
Quem escolhe porta larga se acomoda
Atraído, mais se sente pela moda
Para manter a estrutura não hesita
Em fazer tantas coisas esquisitas
Combater o dinheiro incomoda…
Violência, Francisco abomina
Como faz, antes dele, o Evangelho
Lá Jesus, reprova o texto velho
Rejeitando a truculência como sina
Só a lei do amor é que ele ensina
Entre humanos e com toda criatura
O argumento da força pouco dura
Mesmo quando pretende fazer o bem
Em Jesus e Francisco, não se tem
Qualquer base para prática violenta
Nunca quis fundar ordem, mas confraria
De irmãos entre irmãos a partilhar
Uma vida fraterna exemplar
No serviço recíproco, sem chefia
Justo com Jesus apontaria
E a ordem seguiu outro sinal
Se tornando bastante clerical
Memorias proféticas lançava voz
Que resposta, então, lhes damos nós?
Combater a Mamon, o deus do mal
Se vivesse entre nós o irmão de Assis
Que diria de casos tão correntes
O Ocidente se armando até os dentes
A Mãe terra a gemer por ações vis
De quem diz ter na fé sua raíz
Do abismo entre ricos - esfomeados
Um por cento de privilegiados
Tem nas mãos mais riqueza que nações
Tal maldade não comporta mais senões
João Pessoa, 02 de Junho de 2022.