Roberto Malvezzi (Gogó)
Poucos no mundo cristão estão preparados para a Fraternidade Universal. Na Igreja Católica nem a maior parte dos padres e dos bispos, sequer os leigos. Nas Igrejas Evangélicas, então, só uma minoria que segue a liberdade do Espírito.
Na verdade, todos nós preferimos demarcar nosso território, nossas fronteiras eclesiais, assim como os animais demarcam seus territórios para poder sobreviver. O proselitismo, então, nos faz caçadores de fiéis, às vezes de clientes, com o único intuito de aumentar nosso rebanho, quando não a arrecadação do dízimo.
A Fraternidade Universal é o propósito de Deus. A Fratelli Tutti, ancorada na parábola do Samaritano, mas que São Francisco estendeu para todos os seres humanos, todos os seres vivos, todos os seres criados, surge como um horizonte absurdo do qual parece que jamais vamos nos aproximar. Entretanto, essa é a proposta do Deus Criador, do Filho Redentor e do Espírito Santo que sopra onde quer (FT 56-86).
No Testamento Antigo, Deus estabelece com Noé, seus descendentes, com todos os animais que saíram da Arca, com todas as gerações futuras, uma Aliança eterna. Nós, porém, temos medo da Aliança de Deus com todas as suas criaturas. É como se nos sentíssemos diminuídos por Deus amar suas outras criaturas além de nós (Gn 9,9-17).
Na parábola do Samaritano está apenas “um homem caído na estrada”. Ele não tem identidade, cor, status social, ou qualquer qualificação que lhe dê alguma conveniência de ser atendido. Mas ele é atendido e aquele que o atendeu cumpriu a vontade de Deus, segundo Jesus (Lc 10 25-37).
Quem está preparado para amar todos os seres humanos independente de suas condições? Quem está preparado para amar todas as criaturas e aceitar que elas também fazem parte da plenitude da vida, do Reino de Deus, do Pleroma, como diz Teillard de Chardin? Ou quem acredita nos dizeres de Paulo que “toda criação geme em dores de parte esperando também ela pela redenção dos filhos de Deus”? (Rom 8,19-23)
São poucos, mas há no mundo gente com esse amor universal. Assim foi São Francisco, Charles de Foucauld, assim é o CIMI, a CPT, o CPP e tantos outros sujeitos coletivos que vão aonde os necessitados estão, sem perguntar quem eles são.
Entretanto, a pessoa que melhor encarna a Fraternidade Universal no mundo atual é o Papa Francisco, e ele nos propõe a Fraternidade Universal como o único jeito de ser cristão, porque assim é o Deus de Jesus de Nazaré. Quem tiver coração para entender, que entenda.