Gedeon Oliveira
Minha alma tem sede de Deus, de um Deus vivo anseia com ardor. Ver Deus face a face é o desejo fundamental do ser humano, por isso que o salmo 42 aponta para o crucificado, cujas palavras justificam nossa sede, qual seja: Pai em tuas Mãos entrego meu espírito. Pe Zezinho conseguiu traduzir a sede de Deus como poesia: estou pensando em Deus, estou pensando no amor. Nos tornamos aquilo que alimentamos em nossa alma. Deus que está para além de tudo, é quem funda o cotidiano. Criou o ser humano do barro, isto é frágil. As nossas fragilidades coexistem com nossas forças, mas Deus é fonte de superação, enfrentamento e esperança no cotidiano de nossas vidas. Cotidiano que é síntese do que vivemos: amor e desamor; sofrimento e alegria; saúde e doença; junto e separado; vida e morte. Apesar de vivermos nas condições contraditórias, DEUS É A FONTE DO NOSSO DESEJO. Desejamos Deus passando por qualquer situação adversa. A adversidade necessária para aumentar a fé, esperança e a caridade.
Em dias atuais, vários padres têm retirado Deus como fonte de vida, substituindo-o pelo diabo. Nas celebrações reina o nome do diabo e sua presença nos pobres infiéis que aparentemente, não conseguem enfrentar as doenças. Assim, as pessoas são arrastadas da fonte divina, para a ordem precária do diabo. É uma espécie de paradoxo: Deus é a fonte das narrativas de perfeição, benção, milagre e cura; mas no encontro concreto com o outro na liturgia e fora dela, deus aponta para o diabo como autor do mal físico ou mental. Sem a presença do diabo, não existe benção, milagre ou cura.
Santo Agostinho, o meditador do SUMO BEM, não foi lido e se foi lido não foi compreendido. Na ordem precária do diabo, o medo é o combustível da fé. A doença, longe de constituir a vida de quem vive, perde seu caráter contraditório, para ser obra do diabo. Sem a presença do diabo, origem e princípio do medo, não se ganha dinheiro. Padre que não fala do diabo, não tem público, fama nem riqueza. É preciso exorcizar deus das almas dos infelizes, do que encorajar as pessoas a se confrontarem com a maior arte a ser construída, ou seja, a arte de viver a vida. como nos questiona Clarice Lispector: gosta de viver? Viver dói. Como é possível acreditar na existência de Deus e do diabo ao mesmo tempo? Acreditar no diabo como uma força ou entidade que entra em outra pessoa, parece mais com filme de terror. Como é possível alguém estudar por sete anos em um seminário e ter uma narrativa teológica fora da casinha? Qualquer pessoa que faça uso adequado das suas faculdades mentais, sabe que desenvolvimento do Diabo no mundo moderno tem suas raízes na Europa ocidental, particularmente na França e na Inglaterra, entre os séculos XII e XIV. Antes desse período, o Diabo era visto tanto pela cultura popular quanto por grande parte das autoridades religiosas medievais como um ser fracassado e estúpido. Como se não bastasse a pregação da presença do diabo, a batina preta dá um tom de autoridade suprema. O diabo pode até ser poderoso, mas o da batina preta tem mais poder.
A batina preta é a visibilidade do poder de comando sobre o diabo e o divino. Conversando com uma paroquiana nestes dias, ela me dizia: quando chega o padre com batina preta, fico tremendo de medo. Mas intimidar o fiel e impor autoridade sobre deus e o diabo é o papel simbólico da batina preta.
O padre age em nome de deus sobre o diabo seu criado. Deus é o atrativo e o diabo a narrativa. Os padres sofistas agem em nome deste e da igreja. Não sabemos se é igreja católica, universal do reino de deus, pentecostal ou alguma seita capitalista. Não importa a diferenciação, pois o diabo as une ao redor do dinheiro. Tenho dó do diabo, pois se não fosse ele, os padres não teriam o que fazer, de modo que teriam que trabalhar pra ganhar dinheiro.
O dinheiro tem a força de moldar o poder das autoridades. Viver como autoridade tem custos elevados. Além disso, a autoridade tem necessidade psicológica, necessidade vestuária e seu estúdio de maquiagem para que a aparência consiga esconder aquilo que a batina preta não conseguiu esconder. Se a batina preta não fosse usada para esconder doenças variadas, já teria sido apresentada na fashion week, pois batina preta, exorcismo e dinheiro se tornam, diabolicamente, uma combinação perfeita.
O niilismo é isso: a falta de paixão por algo mais profundo, por horizontes mais além do visto, do pensado e compreendido. Nesta noite escura (S. J. Da Cruz), resta apenas a experiência de um deus morto e sem sentido (Nietzche).
Gedeon oliveira.