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Fé, religião e política: um pacto indispensável quando se está a serviço das pessoas empobrecidas

 



Juliana Henrique

Autora do livro Sobre a natureza da Religião.

 

 

Parto do pressuposto que a fé é um elemento que está intrínseco ao ser humano, independente de etnia, de raça; de ser mulher, de ser homem e de ser não binário; de ser criança, de ser adolescente, de ser jovem e de ser uma pessoa idosa; de classe social; de ter uma crença religiosa e de ser ateu.

Como diz Gilberto Gil: “Andar com fé eu vou Que a fé não costuma faiá'”, logo a fé é um elemento indispensável na vida do ser humano, ela nos impulsiona nos sonhos, nos projetos, em modelos de sociedade... justo ou não. Por isso, os sonhos que alimentam a nossa fé precisam ser avaliados, constantemente, para sabermos se está a serviço primeiramente das pessoas empobrecidas, das mulheres, das crianças, das pessoas negras, da natureza, da população LGBTQIAP+, dos povos indígenas, dos animais, entre outros.

Agora, quando o quesito é religião estamos falando da pluralidade de religiões e da pluralidade, e na expressiva quantidade, de pessoas empobrecidas que fazem parte dessas religiões. Aqui pergunto, com quem estas religiões estão se aliando? Você tem como avaliar o seu Padre, o seu Pastor, a sua Pastora, a sua Mãe de Santo, o seu Pai de Santo, o seu Mestre, e... Seja audaciosa/o, questione, avalie, oriente... Não acredite em promessas apenas ultraterrenas. Basta!

 

Certamente, a história tem frequentemente testemunhado a aliança que a religião tem estabelecido secularmente com as classes dominantes , até ser catalogada classicamente como uma das “superestrutura” que serviram para dominar – através do adormecimento e das promessas ultraterrenas – as classes oprimidas. (VIGIL, 2005, p.17)

 

Infelizmente ainda hoje isso acontece, em nome de um falso “messias” que faz alianças ultraconservadoras, em nome de um deus. E por trás do nome de deus estão os interesses econômicos que mantem o privilegio de poucos, logo existe a concentração da riqueza.

Mas na história Latino Americana demonstra que a religião também é capaz do contrário, vejamos o que alimenta o pulsar libertador advindo da religião:

 

Pode ser fermento de libertação e até de revolução . (...). Houve na história alguma revolução que tenha triunfado sem o apoio da religião, fosse esta oficial ou popular (...)? Só se é capaz de fazer o próprio dom a favor da utopia quando uma faísca de “mística”, de paixão pela utopia libertadora, se acende no coração humano. (VIGIL, 2005, 17-18)

 

O que é essa utopia libertadora? Atrevo-me a arriscar algo, que talvez não conceitue utopia, mas sim os resultados dessa utopia libertadora, a luta de classes, a identificar do rosto feminino da pobreza, a começar pelas crianças e pelas mulheres, a luta antirracista, a luta por terras indígenas, a luta pelos direitos da natureza, a luta pelos animais, a luta pelo respeito, direitos e segurança da população LGBTQIAP+, religiosos ou ateus (quando estes buscam uma política, o direito e a justiça)... Com essas lutas dizemos que queremos um OUTRO MUNDO POSSÍVEL, mais humano e justo. As religiões tem um papel fundamental, mas a quem os dirigentes estão se aliando quando constroem discursos demonizando a população LGBTQIAP+, as mulheres, a luta por terra dos indígenas...?



Surgem, realmente, em alguns espíritos, certos terrores inexplicáveis a respeito da vida futura; mas estes se desvaneceriam rapidamente se não fossem artificialmente alimentados pelos preceitos e pela educação. E qual é o objetivo daqueles que os alimentam? Somente obter um meio de vida e adquirir poder e riqueza neste mundo. (HUME, 2006, p.19) (grifo meu).

 

Meu povo, fiquem atentos. O Deus de Jesus , toma partido do povo empobrecido, vê o sofrimento do povo e desce para salvá-lo:

 

Eu vi, eu vi a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi seu grito por causa de seus opressores, pois eu conheço as suas angústias. Por isso, desci a fim de libertá-lo da mão dos egípcios, e para fazê-lo subir desta terra para uma terra boa e vasta, terra que emana leite e mel, o lugar dos cananeus, dos heteus, dos amorreus, dos ferezeus, dos heveus e dos jebuseus. Agora, o grito dos israelitas chegou até mim, e também vejo a opressão com que os egípcios os estão oprimindo. Vai, pois, e eu te enviarei ao faraó, para fazer sair do Egito o meu povo, os israelitas. (Ex 3,7-10)

 

 

Aqui, faço uma citação judaico-cristã. Vocês podem me perguntar: Mas, Juliana, aqui você está tomando partido religioso. Respondo: SIM, pois sou cristã, mas isso não me impede de dialogar com crentes de outras religiões e com os ateus. E NÃO, pois como diz Ildo Bohn Gass (2024)

 

 

a aproximação ao tema do envolvimento das religiões com a política tem viés cristão. Isso não exclui religiões não-cristãs, pois os valores evangélicos, como o amor e a liberdade, a compaixão e a misericórdia, a justiça e a solidariedade, o perdão e o cuidado da vida, são valores comuns a todas as religiões. Nem exclui pessoas ateias, pois há não-crentes que militam na política, também lutando por um mundo novo.

Outra questão que não foge da realidade humana é a política. Esta como diz Canova (2024) remete ao bem comum. A política quando exerce o seu papel atende a todas as pessoas a começar pelas excluídas e marginalizadas e a natureza que sofre com a exploração de seus recursos. Precisamos estar ‘atenadas’ a essas questões. Todas as pessoas, independente de crenças, de gênero, de classe social, se é ateia... Todas precisam eleger pessoas que representem e que respeitem essa diversidade, pois o fato de sermos seres humanos nos tornam irmãos e irmãs, se está perto ou distante, como diz PAPA FRANCISCO (p.1) “A fidelidade ao seu Senhor era proporcional ao amor que nutria pelos irmãos e irmãs.” E quem são esses irmãos e irmãs? Aquelas pessoas que cruzam as nossas vidas, que existem e que resistem.

O que não deve existir na política,

 

O avanço deste globalismo favorece normalmente a identidade dos mais fortes que se protegem a si mesmos, mas procura dissolver as identidades das regiões mais frágeis e pobres, tornando-as mais vulneráveis e dependentes. Desta forma, a política torna-se cada vez mais frágil perante os poderes económicos transnacionais que aplicam o lema «divide e reinarás».PAPA FRANCISCO(p.4)

 

Basta de construções de “panelinhas” que governem para um pequeno grupo de pessoas, precisamos ouvir o grito das pessoas excluídas, dos animais e da natureza.

Atenção! Todas as pessoas de todas as religiões e da política devem extinguir palavrões do seu vocabulário, agora apresento-lhe um palavrão desumano que não deve existir na nossa sociedade (uma vez que somos todos irmãos e todas irmãs), ele tem quatro letras, ele é a F O M E. Que possamos construir políticas públicas que venham a extingui-la, pois a sua existência nos diz o quanto estamos sendo egoístas.

Para concluir, deixo uma música de Zé Vicente, Povo novo:

 

Lutar e crer, vencer a dor, louvar ao criador!
Justiça e paz hão de reinar e viva o amor!

Nosso poder está na UNIÃO, O MUNDO NOVO vem
De Deus e dos irmãos vamos LUTANDO CONTRA A
DIVISÃO e preparando a festa da LIBERTAÇÃO!”

 

 

 

 

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