Alder Júlio Ferreira Calado
Segue em curso a XII Semana Teológica Pe. José Comblin (STPJC), que se estende por vários meses de trabalho, quatro jornadas comunitárias, além da Sessão de encerramento, marcada para o dia 25 de setembro vindouro.
Esta XII edição de STPJC, organizada por diversos grupos e coletivos (Kairós, CPT, Coletivo Feminista, CEBI, Comunidades organizadas em volta de Café do Vento, entre outros), tem como tema central: “Os pobres e Pe. José Comblin nos ensinam a caminhar no Caminho de Jesus”, que se desdobra em outros temas conexos, trabalhados durante as jornadas comunitárias: “Fé e Evangelho na vida cotidiana”, “humanizar a humanidade: o rosto humano de Jesus”, “Evangelho não é Religião”, além de reflexões sobre o tema central da XII STPJC, durante a Sessão de encerramento.
No domingo, 26/06/2022, realizamos a II Jornada Comunitária, que teve lugar no Centro de Formação Pe. José Comblin, em Café do Vento. Acolhidos pelo Pe. Hermínio Canova, que, juntamente com Rolando Lazarte, coordenou os trabalhos do Encontro, do qual participaram em torno de vinte pessoas: representantes do Kairós, do Coletivo Feminista, do CPT, de vários grupos de jovens das comunidades em volta de Café do Vento, procedentes de Sobrado, Sapé, Riachão do Poço, São Miguel de Taipu, Pilar, Caldeiras Brandão, Riacho do Gado…
A Segunda Jornada Comunitária se inspirou no tema “Fé e Evangelho na vida cotidiana”, como havia sido escolhido desde a I Jornada. Pe. Hermínio Canova e Rolando Lazarte coordenaram o Encontro. De início, coube ao Pe. Hermínio Canova apresentar para os participantes do Encontro, muitos dos quais eram jovens que se faziam presentes pela primeira vez, uma síntese das últimas STPJC, bem como especificamente acerca do tema central da XII STPJC (“os pobres e o Pe. José Comblin nos ensinam a caminhar no Caminho de Jesus”). Coube a Pe. Hermínio e a Elinaide explicitarem o sentido da Teologia, já que estamos vivenciando a XII STPJC. Sublinharam tratar-se do estudo sistemático e metodológico da ideia que os humanos têm de Deus muitas vezes atribuindo a Deus predicados humanos. A reflexão prosseguiu com diversas outras intervenções. Um dos entendimentos expressos acentua a teologia como uma estratégia usada e abusada pelo Clero, ao longo da história da Igreja para afirmar-se como Classe ou casta, com o objetivo de ditarem normas de crença e conduta dos leigos e leigas. Por outro lado, não esqueçamos que, a despeito de tal hegemonia, sempre houve e há da parte das “minorias abraâmicas” a produção de uma teologia alternativa, tal como a Teologia da Libertação e a Teologia Feminista, que teologizam a partir do povo dos pobres.
Neste sentido, destacam o aprendizado recíproco: Comblin, como verdadeiro discípulo de Jesus, de quem os pobres são os prediletos, em sua longa convivência com o povo da América Latina, muito aprendeu a viver a insegurança dos pobres, ao mesmo tempo em que, como grande teólogo, pastor e profeta, empenhou-se incansavelmente em rememorar o espírito do Evangelho, ajudando o povo dos pobres a discernir os apelos do Evangelho frente aos contra-valores que impregnam a cultura das classes dominantes.
A leitura orante e comunitária do Evangelho nos permite, pessoal e comunitariamente, não apenas desmascarar esses contravalores, como também fazemos uma leitura crítica da realidade, com o objetivo de transformá-la, conforme o espírito do Movimento de Jesus.
Dando sequência as reflexões, coube a Rolando Lazarte compartilhar, como coordernador dos trabalhos, distintos aspectos de seu sentir acerca do tema da Jornada. Expressou seu encanto pelas afinidades encontradas entre o Papa Francisco, o Pe. Comblin e o Antropólogo Aldaberto Barreto, fundador do Movimento Terapia Comunitária Integrativa (TCI): as três personalidades se empenham em ressaltar a incidência da Fé e do Evangelho nas relações do dia a dia. Os três, cada qual atuando em seu modo e conforme o contexto em que atuam, sublinham a relevância de se testemunhar os Valores do Evangelho, desde as ações mais simples do cotidiano.
Maria Oliveira, formadora do Movimento Terapia Comunitária Integrativa, compartilhou o relato de diversas experiências, nos trabalhos da TCI, ilustrando a eficácia da partilha fraterna de experiências, observadas nas rodas de conversa.
Da parte dos jovens participantes surgiam uma dúvida: diante do Evangelho que apresenta um Jesus pobre entre os pobres, será que nós também não somos chamados a ser pobres? Das sucessivas falas compartilhadas, formou-se um certo consenso, de que importa distinguir entre pobreza e miséria. Para Jesus, pobreza deve ser uma opção a ser tomada por seus discípulos e discípulas, com abertura e liberdade, assegurada a satisfação das necessidades básicas como sugere o texto dos Atos dos apóstolos (“e todos repartiam o pão, e não haviam necessitados.”), enquanto a miséria deve ser sempre combatida por desfigurar o ser humano em sua dignidade.
A Segunda Jornada foi encerrada com a confraternização dos participantes, com brindes e um saboroso almoço preparado por Maria José.
João Pessoa, 09 de julho de 2022.