*Rafael Reginaldo do Nascimento
A princípio gostaria de iniciar este pequeno texto expressando que a experiência de fé na piedade popular é algo bastante intimista, e um pouco difícil de expressar através de algo escrito, talvez aqui eu não expresse totalmente sobre o tema, mas ajude para um início de reflexão. Quando recorremos as sagradas escrituras no livro de Hebreus, cap. 11,1 “A fé é um modo de já possuir aquilo que se espera, é um meio de conhecer realidades que não se vêem”. Portanto, consideramos a fé como um grande advento residente no íntimo do coração. As diversas romarias, as peregrinações aos santuários são as expressões do povo que tem fé. Um povo que sofre, mas tem esperança de dias melhores. Povo que louva, pede e agradece a Deus.
Podemos dizer que a Piedade Popular é algo bastante peculiar de cada região do país, e porque não dizer de cada Cristão. É uma expressão de Fé, que sobrepõe o gesto ensaiado, as regras escritas e impostas, de fato é algo que surge na naturalidade do mais íntimo do coração humano, temente a Deus. A simplicidade é o alicerce da expressão popular e a intimidade com Deus, é o broto de onde surge toda expressão de Fé, que desabrocha no meio da comunidade. O povo mais simples, que vive longe da lógica e dos raciocínios religiosos, são os mais aguçados na fé popular.
O Documento de Aparecida, nos números 263, 264 e 265. Abordam diretamente sobre a fé popular. E faço deste documento as minhas palavras. Vejamos, o número 263 o que diz a respeito. Não podemos rebaixar a espiritualidade popular ou considerá-la um modo secundário da vida cristã, porque seria esquecer o primado da ação do Espírito e a iniciativa gratuita do amor de Deus. A piedade popular contém e expressa um intenso sentido da transcendência, uma capacidade espontânea de se apoiar em Deus e uma verdadeira experiência de amor teologal. É também uma expressão de sabedoria sobrenatural, porque a sabedoria do amor não depende diretamente da ilustração da mente, mas da ação interna da graça. Por isso, a chamamos de espiritualidade popular. Ou seja, uma espiritualidade cristã que, sendo um encontro pessoal com o Senhor, integra muito o corpóreo, o sensível, o simbólico e as necessidades mais concretas das pessoas. É uma espiritualidade encarnada na cultura dos simples, que nem por isso é menos espiritual, mas que o é de outra maneira.
O número 264 acrescenta que a piedade popular é uma maneira legítima de viver a fé, um modo de se sentir parte da Igreja e uma forma de ser missionários, onde se recolhem as mais profundas vibrações da América Latina. É parte de uma “originalidade histórica cultural” dos pobres deste Continente, e fruto de “uma síntese entre as culturas e a fé cristã”. No ambiente de secularização que vivem nossos povos, continua sendo uma poderosa confissão do Deus vivo que atua na história e um canal de transmissão da fé. O caminhar juntos para os santuários é o participar em outras manifestações da piedade popular, levando também os filhos ou convidando a outras pessoas, é em si mesmo um gesto evangelizador pelo qual o povo cristão evangeliza a si mesmo e cumpre a vocação missionária da Igreja.
Por fim, o número 265 diz que nossos povos se identificam particularmente com o Cristo sofredor, olham-no, beijam-no ou tocam seus pés machucados, como se dissessem: Este é “o que me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20). Muitos deles golpeados, ignorados despojados, não abaixam os braços. Com sua religiosidade característica se agarram no imenso amor que Deus tem por eles e que lhes recorda permanentemente sua própria dignidade. Também encontram a ternura e o amor de Deus no rosto de Maria. Nela vem refletida a mensagem essencial do Evangelho. Nossa Mãe querida, desde o santuário de Guadalupe, faz sentir a seus filhos menores que eles estão na dobra de seu manto. Agora, desde Aparecida, convida-os a lançar as redes ao mundo, para tirar do anonimato aqueles que estão submersos no esquecimento e aproximá-los da luz da fé. Ela, reunindo os filhos, integra nossos povos ao redor de Jesus Cristo.
*Rafael Reginaldo do Nascimento, Professor licenciado em Filosofia e agente pastoral da Comissão Pastoral da Terra da Arquidiocese da Paraíba.