A juventude em Medellín, 50 anos depois

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João Batista Barbosa

O “Centro de Formação Padre José Comblin”, localizado no Sítio Café do Vento, Sobrado (PB), atende a jovens e adultos das Comunidades dos municípios de Sobrado, Riachão do Poço, São Miguel de Taipu e Pilar e outros. O local se destaca como um espaço de formação integral, tanto em nível teológico, litúrgico e humano. É um lugar calmo, com grande espiritualidade, utilizado para encontros, retiros e reuniões. Está sempre de portas abertas para receber pessoas, grupos e comunidades que desejarem conhecer Jesus Cristo e a Tradição dele.

Neste espaço, mais uma vez, ocorreu uma Jornada Comunitária que faz parte da Semana Teológica Padre José Comblin, este ano de 2018 na sua 8ª edição: um momento para pensar a Igreja e sua atuação, a partir da Tradição de Jesus e o legado do Padre José Comblin. Como de costume, a abertura do encontro foi conduzida pelo Padre Hermínio Canova, um dos idealizadores da Semana, rezando pelas famílias, pelos doentes, pelas comunidades envolvidas, pelos refugiados e pela juventude.

O encontro sobre “Medellin-50 anos depois” foi realizado com uma contextualização histórica sobre o Concílio Vaticano II e seus 16 documentos, algumas causas e consequências, entre as quais, a Conferência do CELAM realizada em 1968, em Medellín, Colômbia, com seus 16 documentos produzidos e depois publicados na íntegra, pelo Papa Paulo VI. Na contextualização, podemos apontar o problema da Igreja que não acompanhou o desenvolvimento tecnológico e cultural das épocas. Foi essa situação que fez, entre outros fatores, que João XXIII convocasse o Concílio Vaticano II, em 1959 e celebrasse a abertura dos trabalhos em 1962; mas o Papa faleceu no ano seguinte, sendo eleito o Papa Paulo VI, que deu continuidade ao Concílio.

Desta forma, o Concilio Vaticano 2º pode ser entendido como uma resposta à Modernidade, numa perspectiva de escutar os apelos e entrar em diálogo com o mundo. Assim, o Vaticano II é o início de uma Igreja relacionada com o mundo e suas transformações, como desejara o Papa João XXIII, contudo, ainda sem rumo, principalmente para a América Latina.

Dentro da perspectiva de mudanças, então Medellín se tornou a substanciação, e em parte, a concretização do dialogo com a realidade, e aqui na América Latina, com a realidade dos Pobres. Contudo, vale ressaltar que parcela significante reagiu de forma conservadora e não aceitou prontamente os direcionamentos do Vaticano II e dos Documentos produzidos pelos Bispos, em Medellín, principalmente bispos e padres ricos, que muitas vezes se colocavam acima da própria Igreja, fugindo da Tradição de Jesus.

O ano de 1968 foi emblemático, servindo de inspiração para livros, documentários e filmes, uma vez que a vastidão de fatos históricos relevantes para a construção de uma identidade visionária e libertadora brotou naquele momento da história do Brasil e do mundo. Foram exemplos citados na Jornada Comunitária: a guerra do Vietnã, o assassinato de Edson Luiz, o Movimento negro nos EUA, os protestos de Maio de 68 na França e a promulgação do Ato Institucional Nº 5, que inaugurou o período chamado de Anos de Chumbo, no Brasil.

Dentro da variedade de temas que foram fluindo naturalmente, destacou-se a atuação dos leigos e das leigas no processo de consolidação de uma Igreja Missionária, lutando contra o fundamentalismo religioso e contra qualquer tipo de preconceito.

Na perspectiva de atuação dos leigos e das leigas, foi lembrada a importância da Evangelização como instrumento de humanização e de luta contra as desigualdades sociais. Nessa perspectiva, vale ressaltar a fala do Arcebispo da Paraíba dom José Maria Pires, quando o mesmo apontou a Evangelização como a principal tarefa da Igreja para mantê-la viva e Missionária. A Juventude naquela época encontrava-se angustiada e inquieta; hoje, encontra-se sem direcionamento, perdendo o caminho missionário e se acomodando em Novas Comunidade e esquecendo as Comunidades do Povo.

Considerando a Missão, os jovens leigos e leigas tem um papel fundamental, com o objetivo de levar seu dinamismo, coragem e força para contribuir para transformar a realidade em que estão inseridos/as, com o fortalecimento dos grupos, incentivando a formação de assessores adultos para caminhar junto com esses jovens.

Em Medellin foram abordadas questões relacionadas com a organização dos jovens em pequenos grupos, como também dos grandes eventos ou eventos de massa. É importante destacar que esse tipo de mobilização de massa é necessário, mas não pode ser corriqueiro, uma vez que não apresenta estrutura de formação.

E por fim, é preciso compreender que devemos seguir as orientações do Bispo de Roma Papa Francisco, quando ele expõe que não há “juventudes”, mas tão somente jovens, que se bem humanizados, se tornarão profetas de um mundo melhor e mais justo.