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TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO EM RETROPROSPECTIVA

*anotações em torno do recente Congreso Continental de Teología*

Alder Júlio Ferreira Calado

O Congreso Continental de Teología foi encerrado quinta-feira, dia 11/10/2012, em São Leopoldo – RS. Após toda uma densa sementeira de
reflexões e relatos de experiências de uma teologia testemunhal, assim se se fez nesses cinco dias de sua realização, num ambiente de
confraternização entre centenas de pessoas (em torno de 750 participantes!), vindas de diferentes regiões da América Latina e do Caribe, outras da América do Norte e distintos países de outros continentes. Gente envolvendo-se em vários espaços - conferências, painéis, oficinas, comunicações científicas, celebrações, numa bem articulada tessitura de exercícios de memória e de ousadia prospectiva, que se quer alimentadas pelo esforço da práxis do cotidiano à luz da fé que brota da força do Espírito.




Nesse sentido, as próprias celebrações, aí vividas como fonte de inspiração
– inclusive a celebração de encerramento! – ajudam a confirmar tal
percepção, até (como é o caso) para quem só pôde acompanhar “de longe” esse
acontecimento de reconhecida referência, na caminhada da Teologia da
Libertação e das comunidades cristãs de base.



Não tendo dele participado fisicamente, empenhei-me vivamente em
acompanhá-lo como pude: pela internet, assistindo a um número considerável
de conferências e intervenções (de Agenor Brighenti, de Geraldina Céspedes,
de Jon Sobrino, de Pedro Ribeiro de Oliveira, de Jung Mo Sung, de Victor
Codina, de João Batista Libânio, de Maria Clara Bingemer, de Francisco
Witaker, de Socorro Martinez e de José Sanchez y Sanchez, de Leonardo Boff,
de Frei Betto, de Gustavo Gutiérrez, de Andrés Torres Quiruga, de Peter
Phen, de Luiz Carlos Susin, de Eleazar López Hernández (texto), de
Sebastião Armando, de Marilú Rojas e Carlos Mendoza Álvarez, da jovem
teóloga salvadorenha Mercedes Amador (cf. áudio:
http://www.ivoox.com/mercedesamador-audios-mp3_rf_1488788_1.html), além do
belo relato feito pela teóloga Socorro Martinez e pelo teólogo José Sanchez
y Sanchez, das Jornadas Teológicas preparatórias do Congresso, assim como
das saudações iniciais (Dom Demétrio Valentini, das palavras de boas-vindas
dadas aos presentes, inclusive diversos bispos (católicos, anglicanos) que
lá estiveram, inclusive o nosso querido Dom José Maria Pires (testemunha
emblemática dessa caminhada, antes, durante e depois do Concílio Vaticano
II, e de figuras históricas como o Pe. José Marins, presente; Sérgio
Torres, lembrado também na fala de seu amigo fraterno Gustavo Gutiérrez),
de algumas celebrações, da síntese lida em grupo, ao final do Congresso.
Estou consciente de quantas coisas me escaparam: as oficinas, as
comunicações, as conversas calorosas nos corredores daquele ambiente...



Trato, aqui, de destacar alguns pontos que mais me impactaram, bem como
alguns desafios, sem deixar de levantar, de passagem, um ou outro
questionamento, fazendo-o com o propósito de seguir dialogando para além
desse marcante acontecimento, afinal esse Congresso não se quer um
“evento”, mas antes um momento de um processo, como lembrava, a justo
título, a teóloga Geraldina Céspedes.



Num congresso com características tão complexas e vastas – geográficas (com
traços de distintas regiões da América Latina e do Caribe, além de
representações da América do Norte, da Europa, da Ásia...); culturais, de
gênero, de etnia, geracionais, de intensa diversidade temática, trabalhada
por diferentes teólogos e teólogas palestrantes (quase todos católicos...),
participantes de painéis, oficinas, com participantes dos mais distintos
segmentos da Igreja Católica e de outras Igrejas Cristãs, etc. -, resulta
difícil – mesmo a quem “de dentro” tenha participado - pretender-se uma
síntese que dê conta satisfatoriamente da imensa diversidade de fios aí
tecidos. Não tendo participado fisicamente dessa experiência, o que mal
está ao meu alcance propor, é um breve registro de alguns pontos que mais
me impactaram, a partir dos quais destacar alguns questionamentos ou
provocações fraternas.



*1. Das intervenções de abertura*



Num contexto intra-eclesial de notórias adversidades enfrentadas pela
“Igreja na Base” – convindo assinalar que, a certa altura, graças a
pressões em contrário, até dúvida se teve da realização do Congresso
(lembrar carta-alerta do Pe. José Marins) -, resulta confortadora a
presença, não apenas de Dom Demétrio Valentini, como de diversos bispos,
cuja presença seria assinalada, não só por Dom Demétrio, como em outras
falas, inclusive na de Leonardo Boff. Daí a importância das palavras
iniciais de saudação de Dom Demétrio, expressando solidariedade ao
Congresso e fazendo memória do Concílio Vaticano II, a começar pela sua
figura mais lembrada, o Papa João XXIII.



Há de se destacar, ainda por ocasião da abertura, a palavra encorajadora do
Reitor da UNISINOS, anfitriã do Congresso. Foi muito feliz ao definir
aquele Congresso como uma “experiência de discernimento eclesial”, a
suscitar, à luz do profetismo, o exercício da hermenêutica tanto do
Concílio Vaticano II quanto das narrativas de inúmeras experiências
eclesiais protagonizadas por distintos sujeitos, dentre os quais as
mulheres.



Coube ao teólogo Agenor Brighenti explicitar as grandes linhas e os
objetivos do Congreso Continental de Teología. Num breve exercício
retrospectivo dessa caminhada eclesial desde o Concílio Vaticano II,
passando pela sua recepção na América Latina, chamou a atenção para o
legado dos nossos padres da América Latina (Manuel Larraín, Leonidas
Proaño, Helder Câmara, Sergio Arceo, Samuel Ruiz, dentre outros), bem como
o de nossos teólogos da Libertação tanto os da primeira geração (G.
Gutiérrez, H. Assmann, Juan Luiz Segundo, J. Comblin, Carlos Mesters,
Leonardo Boff, Ronaldo Muñoz, Milton Schwantes, entre outros) quanto os das
gerações seguintes. Ressaltou a expectativa de, a partir do exercício da
memória profética e martirial, na América Latina e Caribe, também a de um
esforço prospectivo em face dos desafios cruciais hoje entrentados. A
propósito de José Comblin, especificamente, lhe foi dedicado um momento de
homenagem especial, por parte de Pablo Richard, Eduardo Hoornaert e Luiz
Carlos Susin.



*2*. *Retalhos das conferências e intervenções acompanhadas: três destaques*



*2.1. Idéias-força recolhidas das conferêncais e intervenções *- Do dia 7
ao dia 11, foram pronunciadas dezenas de exposições, entre conferências,
painéis, oficinas, comunicações. Não me sendo possível fazer um passeio,
ainda que rápido, sobre tantas exposições, trato de, primeiro, sublinhar
algumas idéias-força que recolho em distintas intervenções; em seguida,
elejo três casos que considero mais ilustrativos das inquietações mais
fortes que me têm alimentado – estou certo, de tantas e tantos mais.



*A recepção criativa do Concílio Vaticano II, na América Latina -*

Eis, com efeito, uma idéia-força bem presente em várias conferências  e
painéis (Sobrino, Codina, Gutiérrez, para mencionar apenas esses nomes)

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