Eduardo Hoornaert.
Foi preciso que aparecesse um gênio teológico, na primeira parte do século III, para que o tema do ‘Deus erótico’ não desaparecesse de todo da tradição cristã. Realmente, quem toma conhecimento da vida e da obra do teólogo alexandrino Orígenes, fica impressionado com seu surpreendente Comentário ao Cântico dos Cânticos, em que ele afirma que Deus se revela no ato conjugal. Um ato costumeiramente considerado ‘obsceno’ (do latim: ‘ob- ou ab-scaena’: ‘fora da cena, fora da visão’), o ato conjugal, entra em cena e merece o seguinte comentário: ‘Deus é Eros’ (no grego original de Orígenes: ‘Theos erôs estin’).
&&&&
Como se apresenta Orígenes?
Orígenes não escreve, ele fala. Incansável leitor da Bíblia, ele se move com desenvoltura em comentários bíblicos, possuído pela ânsia de comunicar a seus alunos e suas alunas o que leu. Costuma falar, sem recurso a textos escritos, em comunidades de analfabetos funcionais. Seus amigos resolvem colocar à sua disposição diversos estenógrafos a anotar minuciosamente suas preciosas palavras, como testemunha um de seus discípulos mais entusiasmados, Gregório o Taumaturgo. As anotações de suas falas, comumente realizadas por copistas, hoje enchem muitos volumes em bibliotecas especializadas. Quem tiver a curiosidade de abrir um desses volumes, encontrará textos repetitivos e acúmulos de citações bíblicas, ficará impressionado com o ritmo lento nas interpretações, mas -se persistir – descobrirá pepitas de ouro.
A intelectualidade cristã de Alexandria, na primeira parte do século III, costuma praticar uma ‘leitura grega’ da Bíblia. Alguns chegam a adotar uma leitura especificamente neoplatônica, como Clemente de Alexandria. Outros, como Orígenes, são mais reticentes. Diante da onda neoplatônica, que, com o tempo, se revela avassaladora (como se verificará, em seguida, nos escritos dos Padres da Igreja), Orígenes mantém uma sábia distância. Ele adere, sim, à ‘leitura grega’ dos textos semitas que compõem a Bíblia, mas evita interpretações neoplatônicas.
O que, na Alexandria do século III, se costuma entender por ‘leitura grega da Bíblia’? Na época, o ‘modo grego’ de ler a Bíblia tem charme, é considerado ‘moderno’. Muitos confundem entre ‘leitura grega’ e ‘leitura neoplatônica’ e aderem ao pressuposto de uma oposição categórica entre o espiritual e o carnal, entre a ‘alma’ e o ‘corpo’ (no sentido dado a esses termos por Platão). Clemente de Alexandria, que mencionei acima, por exemplo, passa a considerar o ‘corpo’ como sendo inferior à ‘alma’. E não parece perceber que, desse modo, ele acaba desvirtuando o sentido original da mensagem bíblica.
Orígenes é menos ingênuo. Ele compreende que o uso de termos platônicos como ‘psuchè’ (alma) e ‘sôma’ (corpo), podem levar a uma compreensão adulterada dos significados bíblicos. A duras penas, se mete a estudar o hebraico e chega a captar as particularidades da cultura semita. Assim percebe agudamente que a ‘nova teologia’, revestida de prestígio, despoja o cristianismo do que tem de mais precioso: a mensagem voltada para a transformação da sociedade em benefício do ‘corpo’, da ‘carne’. Ele passa a defender com vigor a ideia de um Deus que ‘se torna carne’, que se compromete com a humanidade ‘carnal’ e se manifesta em tudo que é humano (inclusive na sexualidade). Não embarca na ideia de uma ‘espiritualização’ do mundo, não adota a ideia neoplatônica de uma cesura entre o universo dos sentidos e o mundo das ideias.
&&&&
O Deus erótico.
Desse modo, Orígenes encontra em seu caminho as figuras de Eros e Afrodite, as divindades eróticas da sabedoria grega. Não sei se ele chegou a conhecer a tragédia Antigonè de Sófocles. Mas há uma impressionante sintonia entre o que Sófocles escreve acerca do amor erótico e o que se lê no Comentário ao Cântico dos Cânticos de Orígenes. Sem me aprofundar aqui num comentário de dita tragédia de Sófocles, limito-me a escrever que Antígona, naquela tragédia, simboliza o poder de Eros, em oposição à prepotência do estado e das leis. Uma oposição que o Coro (na tragédia grega, o Coro traduz os sentimentos da plateia) expressa por meio das seguintes palavras:
Eros, invencível Eros,
tu atacas tuas vítimas
ao descer, de noite,
nas tenras faces de uma moça (The Oxford Book of Greek Verse, Clarendon Press, 1954, 323, pp. 327-328. A tradução é minha).
Uma invencível força divina perpassa as tenras faces de uma moça, ‘vitima’ os que se sentem impelidos por pulsões que mal conseguem controlar, rompe leis e regulamentos, derruba obediências e decências. Gerador de vida, o Deus erótico gera desordem, passa por cima das barricadas que o instituto ergue contra os impulsos da vida. Visceralmente avesso à hipocrisia, Eros revela o que acontece na ‘obscenidade’.
Será que esse Deus erótico encontra eco no cristianismo emergente? Quem consulta com atenção os documentos dos primeiros séculos descobre que o Deus erótico não está de todo ausente da primeira literatura cristã. O livro O Pastor de Hermas, redigido no século II, conta como o escravo liberto Hermas chega a reconhecer, com gratidão, o poder do Deus erótico em sua vida. De início, ele sente vergonha com os sentimentos que o ‘assaltam’ ao ajudar sua ex-patroa Rosa a sair, nua, do banho no Rio Tibre (veja meu livro Hermas no topo do mundo, São Paulo, Paulus, 2002, pp. 42 sqq.). Mas a própria Rosa, do céu, o ajuda a superar os acanhamentos e, finalmente, o próprio Pastor (o líder-profeta da comunidade) lhe sugere passar uma noite inteira a dançar com moças no topo do mundo (pp. 70 sqq.).
O Pastor de Hermas é um texto que se move na estreita vereda entre o rigorismo dos presbíteros, que seu bom senso rejeita, e o risco não menos real de licenciosidade no grupo cristão. Hermas esta à procura de um ‘gozo cristão’ na vida de pessoas casadas. Mergulhado nos problemas corriqueiros que enchem a cabeça do comum pai de família, ele nem pode sonhar em deixar a família para trás e seguir os apóstolos itinerantes. Seu negócio tem de render, os filhos querem comer, a mulher solicita sua presença, ele tem de exercer as ‘pequenas’ e diárias virtudes do lar. Sentindo-se pequeno diante dos heróis das estradas e das viagens, mesmo assim tem coragem de fazer ouvir sua voz. Ele sabe que não pode ser modelo, pois modelos são os solteiros, os que deixam tudo para seguir a Jesus. Mesmo assim, Hermas pensa que há algum lugar, por modesto que seja, para ele e seus pares, na construção da igreja. Com o escrito Pastor de Hermas, estamos diante de um dos primeiros registros - nos anais da história do cristianismo - da voz própria dos casados, daqueles e daquelas que ‘sucumbiram diante do Deus Eros’.
Além do Pastor de Hermas, encontramos uma proliferação de cartas e apocalipses, que emergem quase sempre do anonimato e refletem o modo de se viver a dinâmica do movimento de Jesus dentro de quadros familiares. Exemplos são as duas Cartas atribuídas a Pedro, a Carta de Tiago, irmão de Jesus, a de Clemente romano, de Barnabé, os fragmentos de Pápias, a carta a Diogneto, os Atos de Tomé. Existe também a extraordinária história de Tecla, apaixonada pelo apóstolo Paulo (veja Brown, P., Corpo e Sociedade: o Homem, a Mulher e a Renúncia sexual no Início do Cristianismo, Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1990). Foge aos intentos deste breve texto aprofundar aqui o tema.
São textos que estabelecem um link entre a mensagem cristã e a ancestral e universal sabedoria humana acerca da sexualidade, com a qual o cristianismo nunca deveria ter entrado em lide. Pois o medo da sexualidade é sinal de uma decadência da teologia. Ela se manifesta no século V e se propaga por muitos séculos. Aí não se entende mais a teologia dos grandes mestres, como Orígenes (século III), Ambrósio, Jerônimo (ambos do século IV) e Agostinho (século V). O primeiro é condenado pela autoridade eclesiástica em 533; o segundo, que defende a ‘liberdade da igreja’, é abandonado em 381, quando o cristianismo é declarado oficialmente religião do estado romano; o livre ímpeto monástico do terceiro sofre os efeitos de uma progressiva institucionalização e burocratização do monaquismo. E, finalmente, as ideias de Agostinho, um pensador complexo, sofrem uma vulgarização a partir do momento em que ele passa a ser apresentado como defensor de uma moral anti-sexual. Hoje fica claro, para quem se aprofunda na história, que a decisão do II Concílio de Constantinopla, em 533, no sentido de condenar Orígenes, foi um equívoco. O exegeta minucioso, o intelectual honesto e rigoroso, o homem livre, foi rejeitado em benefício de conveniências organizatórias.
Ocorre um empobrecimento intelectual generalizado, uma vulgarização que atinge setores sempre mais amplos do universo cristão. Não se compreende mais como o celibato pode conviver com uma visão positiva da sexualidade. Não se relaciona mais celibato com liberdade, mas com obediência. Pois celibato significa, antes de tudo, liberdade. Como aponta o historiador Peter Brown, rejeitar a sexualidade não significa, nos primeiros tempos do cristianismo, simplesmente eliminar os impulsos sexuais. Significa a afirmação de uma liberdade fundamental tão intensa, um sentimento de identidade tão profundamente enraizado, que se evaporam as obrigações sociais e físicas normais que prendem a pessoa ao seu sexo (Brown, P., Op. Cit., pp. 149-150).
&&&&
As raízes semitas do pensamento de Orígenes.
Em sua obra Contra Celso, Orígenes discute com o filósofo romano Celso a seguinte questão: onde está Deus? Celso responde: no templo. É no templo que céu e terra se encontram, já que o mundo material é apenas um reflexo do mundo espiritual, divino. O sol, as estrelas, a lua, são reflexos de Deus. Na terra opaca, o templo, onde Deus mora, brilha na escuridão da matéria e reflete a luz divina. Orígenes, inspirado pela Bíblia, pela antiga sabedoria grega e por Paulo, discorda. Ele afirma: Deus está no corpo. O corpo humano é o templo do Espírito Santo, o tabernáculo santificado do Senhor, o membro do corpo de Cristo. O cristão dispensa o templo, feito pela mão do homem, e vê Deus em seu próprio corpo.
Ao afirmar que Deus mora no templo, Celso se revela influenciado por ideias platônicas. O templo seria um lugar santo em meio a um mundo perverso. Orígenes, com a segurança que lhe proporcionam suas leituras bíblicas, é taxativo: Deus no corpo.
Na Bíblia hebraica, dois termos expressam a composição do corpo humano: basar e nefesh. Dois termos correlatos, que expressam dinâmicas do corpo que funcionam em conjunto. O termo basar, que a Setenta traduz por ‘sarks’, a Vulgata (tradução latina) por ‘caro’ e as línguas modernas por ‘carne, chair, flesh, Fleisch’, cobre, em hebraico, um amplo leque de sentidos, como ‘corpo’, ‘consanguinidade’, ‘parentesco’. Basar nunca é aplicado a Deus. O termo acentua os aspectos frágeis, provisórios e vulneráveis da natureza humana, sujeita a doença, sofrimento, infortúnios e morte. Mas não tem conotações negativas. Ihwh trata a carne com perdão e misericórdia:
Ele, tão amoroso,
Perdoa tua falta.
‘Eles não são senão carne,
Um sopro que passa’ (Sl 78, 38-39).
O basar existe unido ao nefesh, um termo que igualmente possui um amplo leque de significados: ‘vida, respiração, desejo, força, vitalidade’. A Setenta traduz o termo por ‘psuchè’, a Vulgata por ‘anima’ e as línguas modernas por ‘alma, âme, soul, Seele’. Nefesh expressa o fator dinâmico da natureza humana
Aqui estamos diante de um ponto que merece ser esclarecido, pois existe muita confusão, na mente dos leitores da Bíblia, em torno do termo ‘alma’. O que hoje entendemos por ‘alma’ nem sempre rende o sentido original semita de nefesh, que designa aspectos do ser humano não contemplados pelo termo basar, mas que não necessariamente são ‘espirituais’ no sentido que hoje damos a esse vocábulo. O ponto principal é o seguinte: não existe dualismo entre os dois componentes. O ser humano é ao mesmo tempo basar e nefesh.
Deus, meu Deus,
Eu te procuro.
Tenho sede de ti.
Minha alma te espera
Sobre a terra seca,
Árida e seca (Sl 63, 2).
&&&&
O Cântico dos Cânticos.
A sinergia entre nefesh e dabar constitui a base da compreensão do Cântico dos Cânticos. O texto, tradicionalmente atribuído ao Rei Salomão, nos permite assistir a uma festa de casamento no melhor estilo hebraico, com danças e cantos, muita poesia e muita animação. O texto exala perfume, aguça o desejo erótico, expressa as angústias e expetativas do corpo namorado. Aqui, na breve apresentação desse texto, sigo o comentário feito pelo saudoso biblista Milton Schwantes, intitulado Debaixo da Macieira, publicado em: Cântico dos Cânticos, Estudos Bíblicos, 40, Vozes, 1993.
Na cama
Durante noites
Procurei por quem minha alma anseia.
O procurei
E não encontrei.
Me levanto, ando pela cidade,
Pelas ruas e praças
Procuro por quem minha alma anseia,
E não o encontro.
Encontro os guardas
Os que fazem ronda na cidade.
Vocês viram por quem minha alma anseia? (Ct. 3, 1-3).
‘Minha alma’, ‘meu nefesh’. Finalmente aparece o amante, e diz:
Sob a macieira
Eu acordo (a namorada).
‘É aqui que sua mãe a concebeu
Que você recebeu a vida.
Aperta-me como selo sobre seu coração
Como selo sobre seu braço’.
O amor é forte como a morte,
Paixão dura, como as forças da terra.
Chamas, chamas de fogo,
Chamas de Ihwh.
Muitas águas não apagarão o amor (Ct 8, 5-14. É bom ler o trecho 7, 10- 8, 15 por inteiro).
Chamas de Ihwh. No orgasmo, Ihwh (que não aparece em nenhum outro tópico do Cântico) se manifesta. Muitas águas não apagarão as labaredas de Ihwh, as chamas de fogo do Deus erótico. A revelação de Deus, no momento culminante do ato conjugal, o santifica.
&&&&
Deus é Eros.
O comentário de Orígenes é lapidar: Deus é Eros (Theos erôs estin). Difícil encontrar, na ulterior tradição cristã, uma afirmação tão forte, desconcertante para muitos. Se o corpo é a morada de Deus e se o nefesh dos semitas (o Eros dos gregos) provoca a atração entre homem e mulher, então convém dizer que Deus se manifesta no ato conjugal. O desejo humano, origem do ato conjugal, se identifica com o desejo de Deus. Supera-se a distinção neoplatônica entre caridade (‘charis’, ‘agapé’) e amor erótico (‘eros’). Eros e agapé se abraçam.
De início, essa interpretação do ato conjugal encontra boa aceitação entre Padres da Igreja, como Jerônimo e Gregório de Nissa (ambos do século IV) (veja Dicionário Patrístico e de Antiguidades Cristãs, Vozes, Petrópolis, 2002, p. 253). Mas, nos séculos subsequentes, as coisas mudam. Do século V por diante, os comentários patrísticos ao Cântico dos Cânticos costumam ‘espiritualizar’ a narrativa. Compara-se o amor entre dois namorados com o amor de Ihwh por Israel, o amor de Cristo pela Igreja, o amor de Deus pela humanidade. Evita-se comentar o teor corporal-erótico do Cântico dos Cânticos. Só algumas figuras históricas escapam, como - por exemplo- Bernardo de Clairveaux e João da Cruz.
&&&&
‘Minha mãe me concebeu no pecado’.
Resta comentar o versículo Minha mãe me concebeu no pecado, do Salmo 51, que muitos entendem como uma alusão à pecaminosidade do ato conjugal. Mas quem lê o Salmo por inteiro e o situa na história de Davi, entende que isso é um equívoco.
Pois o salmista (que passa por ser o próprio Davi) evoca um episódio particularmente ‘vergonhoso’ da vida do Rei. Leiamos os três primeiros versículos:
Salmodia de Davi.
Depois de ter dormido com Betsabé,
O profeta Natã o encontra.
Essas palavras referem-se a um episódio descrito no Segundo Livro de Samuel, onde se lê que o profeta Natã conta, na frente do Rei, a famosa parábola do rico e da cordeirinha do pobre (2 Sm 12, 1 a 12). O rico trama a morte do pobre para ficar com sua cordeirinha. Ao ouvir a parábola, Davi se indigna. Mas, de repente, Natã diz: esse homem és tu! (v. 7). Tu fizeste com que Urias, o hitita, morresse pela espada para lhe roubar a mulher e casar com ela! (v. 9). Realmente, para poder ficar com Betsabé, esposa do general Urias, Davi lhe confiara uma arriscadíssima expedição militar, na qual o general, da etnia hitita, morreu num confronto com forças amonitas. Davi tramou a morte de Urias.
Davi cai em si. Das profundezas do arrependimento, ele invoca Deus:
Oh Deus, tem piedade de mim.
Tão forte teu amor,
Tão forte tua compaixão,
Esquece minha ofensa.
Pratiquei o mal diante de teus olhos.
Olha: nasci na culpa
Minha mãe me concebeu no pecado.
Não olha meus crimes.
Esquece minhas culpas.
Oh Deus, faz-me um coração puro,
Um grande sopro novo em mim.
Não me exclui de tua presença,
Não me priva do sopro de tua santidade.
Oh Deus, meu socorro,
Minha língua cantará tua justiça.
Deus, meu sacrifício é esse espírito quebrado.
Oh Deus, não condena um coração quebrado, esmagado (Salmo 51, 1-19, passim).
O salmo recorda duas verdades fundamentais:
- a pecaminosidade, que não raramente marca relacionamentos eróticos, não consiste no ato conjugal em si, mas nas condições concretas em que esse ato é praticado. Davi planeja a morte de Urias para poder ficar com sua esposa Betsabé. O crime de Davi não consiste em desejar a mulher, mas em tramar a morte de um ser humano para ficar com ela. O crime consiste no adultério, na infidelidade, no estupro, na violação, na pedofilia, no desrespeito pelo corpo do/da outro/a, na trama assassina, ou seja, nos eventuais condicionamentos criminosos em que um ato conjugal concreto e realiza. Crimes que não se confundem com o ato conjugal. Há de se distinguir entre ato conjugal e crime. A Bíblia mostra que o crime é sempre uma possibilidade, atinge potencialmente todo o agir humano. Recorre a cerca de cinquenta termos para indicar criminalidade, pecaminosidade e culpabilidade no agir humano. Assim, o termo hebraico ‘hatta’t’, que aparece no versículo 7 do Salmo 51, pode ser traduzido por ‘falta’, ‘crime’, ‘ofensa’, ‘mal’ ou ‘pecado’. A vida humana costuma encontrar obstáculos aos planos que Ihwh acalenta a seu respeito. Obstáculos que podem se apresentam de diversos modos. Podem se manifestar no ato conjugal como em outros atos. As palavras ‘nasci na culpa, minha mãe me concebeu no pecado’ indicam a multiplicidade de casos em que o mal ameaça o agir humano.
- Uma segunda e última consideração. Há sempre a possibilidade de perdão. Oh Deus, não olha meus crimes! A grandeza de Davi consiste no fato que ele se mostra capaz de reconhecer sua culpa e pedir o perdão de Deus. O Salmo 51 é um grito de arrependimento, uma expressão de confiança em Deus misericordioso.