Deus nos livre de um país cristão1

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Juliana Henrique

A frase supracitada pode trazer um pouco de confusão, por outro lado podemos perguntar: de que cristianismo estamos falando? Como diz o Pastor Henrique Vieira: “Refiro-me a esse cristianismo sem Cristo, sem amor, sem compaixão, sem misericórdia. Eu me refiro a esse cristianismo de moralidade vazia, de coronéis da fé, de exploração sobre o pobre, de mercantilização da religião.” Acrescento que de subserviência, de invisibilidade, de desigualdade de gênero e de injustiças vividas pelas mulheres.

A frase é imperiosa, e deveria ser assim: deus nos livre de um país (des)umano. Mas, como afirma Ivone Gebara, o cristianismo se tornou um fenômeno cultural mundial e tem um papel político que não podemos deixar de levar em conta.

Então, para iniciar um diálogo sobre cristianismo e igualdade de gênero, pergunto: O que é ser cristão? O que é igualdade de gênero?

Uma pessoa cristã implica em ser seguidora de Jesus, o Cristo. Então, imperiosamente devemos perguntar: Quem é Jesus? Ora, aqui citaremos alguns aspectos das ações de Jesus.

 

Jesus acolhe e cura mulheres, de igual forma como faz com crianças, pessoas doentes, empobrecidas e marginalizadas. Elas pertencem a esse grupo de minorias qualitativas. Jesus interfere em favor delas na questão do cumprimento da Torá: coloca a VIDA acima da lei na defesa da mulher adúltera (Jo 8:1-11), mas faz valer a Torá quando, por meio de uma parábola, se percebe o direito da mulher viúva está para ser violado (Lc 18:1-8). Mulheres têm liberdade e são protagonistas nesse movimento e nas origens da Igreja, tanto na ação (Mc 5:25-34; 14: 3-9) quanto na fala (Mt 15:21-28; Jo 11, 17-46) (REIMER, 2005, p.68)

 

Aqui, conhecemos uma faceta de Jesus através de suas ações. E podemos verificar nos Evangelhos, que estão na Bíblia.

Agora, considerando alguns discursos sobre gênero que diz: “Igualdade de gênero é do demônio”. EU PORÉM VOS DIGO: “(Des)igualdade de gênero é do diabo”. Sim. A (des)igualdade de gênero pauta diferentes oportunidades entre homens e mulheres, respectivamente portadores de pênis e vagina. O fato de ser homem dá-lhe o direito de ir a escola, a trabalho, a vida pública, a formações, a dirigir um automóvel, a dirigir uma igreja, de votar e ser votado, etc. O fato de ser mulher dá-lhe o direito de casar, de fazer sexo (sem prazer) para satisfazer ao marido e a Deus, de cuidar das crianças, de cuidar da casa, de realizar trabalhos domésticos da igreja sem remuneração, etc. A tempos atrás vivíamos essa disparidade... Hoje, através de lutas feministas conseguimos escola2 para meninas, direito ao voto3, processo de conscientização para que as meninas reflitam sobre seus projetos de vida se envolve trabalho, crianças...

Ora, também são essas desigualdades de gênero que precisamos dirimir. Seria vontade de Deus (Eu me refiro como MISTÉRIO (in)sondável) ver diferentes oportunidades entre homens e mulheres? Já que o MISTÉRIO é justo... a injustiça sofrida pelas mulheres é vontade do MISTÉRIO ou dos homens que estão no poder, através de oportunidades/privilégios atribuídos ao fato de ser homem? Precisamos aprender a discernir... o que é vontade do MISTÉRIO e o que é vontade do homem. Os seres humanos tem a capacidade de discernir, pois possuímos razão e emoção. Precisamos agir como Jesus, quando for necessário precisamos colocar a VIDA acima da lei e fazer valer a LEI quando respalda a VIDA.

E para você, pessoa leitura, quem é Jesus? E o que é igualdade de gênero?

 

Juliana Henrique é autora do livro Sobre a natureza da religião.

1 Frase do Pastor Henrique Vieira.

2 A educação feminina no Brasil teve início com colégios particulares em meados de 1867 e foi apenas em 1880 que as mulheres puderam ingressar no sistema de ensino público.

3 As mulheres brasileiras conquistaram o direito de votar em 24 de fevereiro de 1932, por meio do Decreto 21.076, do então presidente Getúlio Vargas, que instituiu o Código Eleitoral.