Roberto Malvezzi (Gogó)
Aporofobia é um neologismo feio, do grego, significa desprezo pelos pobres, e está na moda.
Ela se manifesta em expressões que qualificam os mais empobrecidos como “vagabundos”, “inúteis”, “parasitas”, “só servem para votar”, ou em gestos concretos, quando uma prefeitura ergue espadas debaixo de uma ponte para que eles não durmam ali, ou uma igreja manda remover os pobres de suas praças para que eles não enfeiem o ambiente. Ainda mais, quando são proibidos de entrar nas missas porque estão sujos, maltrapilhos e malo cheirosos. Esse tipo de aporofobia conhecemos bem, vem da classe dominante, da cultura escravocrata sobre índios e negros da qual esse país se alimentou por séculos e ainda se alimenta.
Mas, nos grupos de mídia, de repente surge um novo tipo de aporofobia. Os empobrecidos são chamados de “inconscientes”, “sem consciência de classe”, “pobre de direita”, “atrasados” etc., outras ofensas que nem registro aqui, tudo dito com muita raiva e desprezo. Surge, então, a aporofobia de esquerda. É o desprezo pelos empobrecidos, embora por razões diferentes.
Quem já fez um trabalho de base, que conhece o Evangelho, quem ouve o Papa Francisco, quem conhece a pedagogia do oprimido de Paulo Freire, sabe que os empobrecidos desenvolvem mil artimanhas de sobrevivência. Eles precisam. Quanto a muitos, que se acham mais esclarecidos que eles, é bom lembrar que não se ata mais uma carga a quem já carrega nas costas todas as mazelas do mundo. É nesse sentido que faz cada vez mais sentido aquela frase de Papa Francisco: “isso é Evangelho, não é comunismo”. Não porque ele menospreze os socialistas ou comunistas, mas para dizer sempre que o Evangelho vai mais fundo na condição humana, para além da construção das classes sociais e suas ideologias.
Para finalizar, uma senhora do interior de São Paulo perdeu sua cesta básica por se declarar eleitora de um candidato. Mesmo depois, apoiada por muitos, confirmou sua escolha. Ela pertence a maioria pobre desse país que tem sustentado a alta votação do referido candidato até agora. Mesmo com as manobras eleitorais de programas sociais, a grande maioria não recuou de seu voto, o que indica uma alta consciência política. Assim como os dominantes, que têm alta consciência de classe e nunca erram seu voto. Os empoderados continuam firmes com o homem que está na presidência.
Resumo da ópera, não é agredindo com palavras, preconceitos e atitudes que vamos ajudar a parcela minoritária dos mais pobres que ainda vota nos seus inimigos. O melhor caminho, onde couber, continua sendo o diálogo. Onde não couber, que ao menos se respeite a consciência real de parcela dos mais empobrecidos!